segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

absence

Agora vou parar de escrever sobre você e falar sobre mim:

sobre como eu me afastei dos prazeres (ou o prazer se afastou de mim?)
sobre como eu me afastei dos amigos (ou eles se afastaram de mim?)
sobre como eu me afastei das amigas (ou elas se afastaram de mim?)
sobre como eu me afastei da luta pra remediar a dor
sobre como eu me afastei dos sonhos e ilusões
sobre como é difícil estar só
sobre como é difícil não saber o que fazer por excesso de sentir
sobre como não parar de pensar machuca
sobre as alucinações e a paranóia e também a vontade de morrer, pulsante
epa

agora eu vou parar de escrever sobre você e falar sobre mim:

sábado, 29 de novembro de 2014

Eu (ainda) te vejo

É que é insuportável te olhar.
Não que eu não consiga ficar com os olhos fixos em você por um tempo. É bem difícil, mas não diz sobre isso. Não é só o físico.
É que olhar puxa lembranças.
E lembrar-me do nós que existiu(?), aliás, perceber que ele está sendo negligenciado, dói demais.
Você sabe, é dor física mesmo e também. É frio, imunidade baixa, cansaço, falta de energia, tristeza... É bem ruim.
Pode ser abstinência. Se pá nem é negligência, é só castração mesmo. Borda, não sei.

Sei que a algum tempo eu tava lembrando das nossas rugas. Da minha reclamação, "ranzinzice" acerca da sua perda constante de memória. Me lembrei de você tocando carinhosamente minhas rugas e verrugas enquanto eu tagarelava, fingindo desatenção, sobre sei lá o que. Ah sim, reclamando que os atrasaríamos para algum evento que eu queria ir pra exibir-me e te exibir, como se desfilássemos.
Bons tempos.
Pois é.
Faz tempo que não nos vemos.
Mas eu ainda não sei parar de te olhar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Imprestável

adj. Que não possui serventia; que não presta nem serve; sem utilidade; inútil: possui muitas coisas imprestáveis. 
s.m. e s.f. Informal. Pessoa sem utilidade; quem não presta.
(Etm. im + prestável)
Tomei, há algum tempo, pequenas doses de você
Pra que?
Num momento de recaída enchi um copo
[que não é tanto pra uma adicta, mas já causa uma
Nem me embriaguei
      Apesar da euforia
Mas a ressaca...

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Escolhas(?)

Eu espantei o beija-flor com fumaça
Eu espantei o beija-flor com fumaça
Eu espantei o beija-flor com fumaça, a tarde
Eu espantei o beija-flor com a fumaça do cigarro, a tarde
Eu espantei o beija-flor preto com azul com a fumaça do cigarro, a tarde
Eu espantei o beija-flor com a fumaça do cigarro que eu estava fumando, a tarde
Eu espantei o lindo beija-flor com a fumaça destrutiva do cigarro que eu estava fumando, a tarde
Eu, podre, espantei o lindo beija-flor que veio beijar as flores do lugar onde meu corpo estava ocupando com a fumaça nojenta e destrutiva do cigarro que eu estava fumando, a tarde
Eu, podre, espantei o lindo beija-flor com a fumaça nojenta e destrutiva do cigarro que eu estava fumando pra me dopar, a tarde
Eu escolhi o cigarro
Eu estava fumando a tarde
Eu espantei o beija-flor

Afiada

Cortou o laço
Cortou os sorrisos
Cortou os compromissos
Cortou as relações
Cortou o cabelo
Cortou os pulsos.

Não pingou uma gota de sangue.

domingo, 28 de setembro de 2014

Nota sobre o “tipo de político que estamos precisando”




Estava almoçando em um fim de semana quando ouvi uma observação acerca de um delegado, candidato a algum cargo que lhe confere certo poder de decisão sobre a vida de algumas pessoas e cuja campanha consiste em prender e/ou matar aqueles que “atrapalharem a ordem social”. Pois bem, o comentário dizia sobre a necessidade de se ter alguém assim no governo, “é de gente assim que estamos precisando”.
Passado algum tempo, mudamos de assunto e começamos a falar sobre uma das cachorras que compõem nossa família, sobre um passeio que foi realizado recentemente com ela. Após um tempinho de discussão, saiu o seguinte comentário “ah, gente, mas vamos combinar, ela fica presa todos os dias o tempo todo, imagina a gente nessa situação, se não íamos ficar doidos pra sair”.
De raça misturada, ela tem porte de médio a grande e vive em um apartamento de dois quartos, junto com três pessoas e outra cachorrinha, de pequeno a médio porte. Sai para passear em uma freqüência de uma a duas vezes por mês e não faz isso todos os meses.
A criança, como gosto de pensá-la, sempre que vê a coleira fica bastante agitada, balançando o rabo, latindo e demonstrando de várias maneiras, muita alegria. Na rua, dificilmente faz suas necessidades, anda com muita “ansiedade”, puxando fortemente a coleira (peitoral), tenta se relacionar (tipicamente, brincar ou brigar) com todo animal que passa na rua e muitas vezes com as pessoas, se assusta com certas manifestações de automóveis, mas em geral, se não fosse firmemente segurada por seus responsáveis, poderia ser atingida por algum, uma vez que não conhece os limites rua-calçada e nem “os riscos” de atropelamento. É bastante cansativo o passeio com ela, em que tem-se que estar em alta vigilância constantemente, mas causa um prazer imenso perceber sua alegria.
Sua irmã já é bem diferente. Sem aprofundar no assunto, pode-se dizer que é mais tímida e comportada, fazendo questão de estar constantemente em companhia de seu responsável e chegando mesmo a pedir colo quando há aproximação de outros animais ou pessoas. Mantém uma postura bastante passiva.
Mas o que elas têm a ver com o delegado? Antes de responder a essa pergunta, gostaria de destacar alguns aspectos do comportamento de ambas:
·         Sempre que saem elas agem da mesma forma;
·         Com raras exceções, não fazem suas necessidades na rua porque foram ensinadas a fazer em um cômodo específico da casa em que vivem, chamado de “banheiro das cachorras”;
·         Nunca foram adestradas, e, portanto sua agitação ao andar na rua dificilmente é controlada com gritos ou posturas fisicamente agressivas, como puxões, tapas etc;
·         Também nunca foram ensinadas a diferenciar calçada de rua;
·         Nunca foram ensinadas que deveriam esperar a passagem de um automóvel para que então pudessem atravessar a rua;
·         Sua convivência diária é com cinco pessoas e por vezes essa é modificada por alguma visita. O comportamento delas ante as visitas varia bastante em decorrência da freqüência da visita, do modo como ela as trata, do tempo de visitação etc;
·         A cachorra mais “passiva”, por ser menor, fica mais no colo e sempre que é necessário é defendida a partir de uma postura “paparicadora” das pessoas da casa;
·         Quando ocorre de as férias das pessoas da família serem no mesmo tempo ou bastante próximas, elas saem mais de casa, nesses momentos de maior freqüência de saída, especificamente, percebe-se uma mudança em seu comportamento: A mais agitada costuma perder um pouco da agitação, tornando a condução mais fácil e proporcionando maiores possibilidades de realização de brincadeiras ao ar livre, por exemplo. A outra arrisca-se um pouco mais, chegando a acompanhar com maior tranqüilidade os movimentos da primeira.
Ok, agora, pra você que já encontrou ou não relação entre o delegado e as cachorras, vamos lá:
Cobra-se constantemente, uma postura rígida e violenta em relação às e aos “infratores, criminosas, bandidos, viciadas...” presentes em nossa sociedade, afirmando que os problemas serão resolvidos quando efetivamente essas pessoas se mantiverem presas, cumprindo o prazo “correto” de pena ou estiverem mortas. O grande problema consistiria então na impunidade e resolvendo o problema da impunidade, resolver-se-ia o problema da insegurança. E a impunidade aparece pela falta de rigidez vinda dos executores da lei.
Mas será que esta relação é, de fato, verdadeira?
Não pretendo, neste momento, argumentar utilizando as milhares de pesquisas realizadas sobre a reincidência (quem já foi preso, é preso de novo), sofrimento de presidiárias, países com número reduzido de presídios – e de violência entre tantas outras que comprovam o que vou falar a diante, quero, como em um papo de domingo, que você que está lendo vá acompanhando um esqueminha lógico e simples que formulei. Vamos falar sobre aprendizagem?
Então, me acompanhe:
As cachorras passam, de 365 dias, aproximadamente 341 dias fechadas dentro de um apartamento e esqueci de dizer antes, há uns 5 ou 6 anos.
Um sujeito que cometeu algum crime e está “cumprindo direito” a pena, passa aproximadamente o mesmo tempo ou talvez mais, dentro de uma cadeia, durante 5 ou seis anos.
As cachorras recebem comida, água, têm lugar para dormir confortavelmente e são tratadas com bons afetos: muito carinho, atenção, e até mesmo, paparicação. As vezes, é claro, com braveza.
O sujeito que está preso recebe (na maioria dos casos) comida, água, muitas vezes tem que competir por um lugar um pouco menos ruim que o chão para dormir e é tratado predominantemente com alguns afetos específicos: violência, indiferença, desejo sexual e por vezes, um pouco de carinho vindo de algum ou alguma companheiro ou companheira de cela ou visita.
Ambas as cachorras ao sair na rua, agem com extrema alegria. Uma demonstrando por meio da agitação e interesse em tocar, cheirar, lamber, latir para ou reagir de alguma forma a todo estímulo que lhe chame a atenção, sem medir, ainda que num nível operacional, as conseqüências, se colocando até mesmo em situação de perigo real. A outra, discretamente ao abanar o rabo e por vezes até mesmo puxar a coleira, tal como a primeira. Porém age com um medo quase constante, reagindo com passividade em busca de defender-se de qualquer coisa que lhe chame a atenção e seja desconhecida.
Ao sair da prisão, a reação de um ser que passou grande parte da vida longe de outros tipos de relações humanas que não as da cadeia, tende a agir de duas formas principais, com poucas exceções:
Sentem-se extremamente “empolgadxs” com a liberdade, tentando desfrutar de tudo que a vida oferece – e a vida oferece muita coisa.
Sentem-se perdidxs, amedrontadxs, deslocadxs, porque já perderam o costume de estar naquela sociedade, tendo construído modos de vivência (pensamento, ações, atitudes...) específicos da situação de cárcere.
Analisemos então, agora sem cachorras, as duas formas apresentadas e dessa vez vou usar um pouquinho de pesquisas, coisa rápida (mas se quiser pular essa parte, lembre-se das pessoas que mendigam, dormem nas ruas etc que você vê por aí ,segura essa imagem e pula pro pontinho):
* “O número de pessoas presas no Brasil é equivalente a seis Maracanãs lotados: 514.582 presos.” = gente demais;
*O Artigo 88 (da Lei de Execução Penal – LEP) “assegura ao detento no mínimo seis metros quadrados de espaço na cela. Porém, na atualidade, na maioria das vezes ele tem só de 70 centímetros a um metro.” = espaço de menos;
* “nove crimes são responsáveis por 94% dos aprisionamentos, entre eles o tráfico de drogas, com 125 mil presos, e os crimes patrimoniais – furto, roubo e estelionato - com 240 mil.” = os crimes consistem, em sua maioria, na busca por obtenção de bens, seja dinheiro ou propriedades;
* Outro levantamento feito pela pesquisa mostra que mais de 134 mil presos têm de 18 a 24 anos. Os negros representam 275 mil, quase 60% do total, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). = jovens e negxs;
* A maioria absoluta é formada por pessoas pobres, da classe baixa. Setenta por cento deles não completaram o ensino fundamental e 10,5% são analfabetas. Só dezoito por cento desenvolve alguma atividade educativa e 72% vive em total ociosidade. = Baixa ou nenhuma escolarização fora do presídio, nenhuma atividade produtiva dentro dele;

  •   Ou seja: “criminoso” no Brasil é preto, pobre e jovem. Presídio no Brasil não mantém essas pessoas longe da violência, menos ainda as conscientizam sobre ela ou fornecem meios para que seja evitada ou combatida.

Bom, acho que já deu pra entender um bocado do que quero dizer, mas vou deixar bem explicadinho e de uma forma um pouco mais direta agora porque já to cansada. Seguinte:
- As pessoas fazem o que elas sabem fazer e não fazem o que não sabem. Parece óbvio, mas as pessoas continuam repetindo “tem favelado que vai pro crime e tem favelado que ‘subiu na vida é uma questão de escolha”. Sim, pessoa, teve pobre que conviveu a vida toda com violência e as oportunidades que teve de se dar bem (lê-se sobreviver, ter um status diferenciado, conseguir os bens que desejou, etc), foram em um cenário de violência. Gente, ganhar rios de dinheiro por mês e ainda ser respeitado e obedecido não é uma coisa maravilhosa? Ser dono do morro pode ser uma delícia! Por outro lado, teve pobre que conviveu a vida toda com violência, mas no dia em que fugiu de casa, deu de cara com uma galera que curtia leitura, música, ou deu de cara com uma ONG, ou recebeu, vejam só, uma proposta de emprego!  A primeira pessoa, nasceu, cresceu e teve todo seu aprendizado com base na violência. Inclusive o modo como aprendeu a enfrentá-la, foi reproduzindo. A segunda pessoa, nasceu, cresceu e teve parte de seu aprendizado com base na violência e parte com base em outras coisas. O modo como aprendeu a enfrentar a violência foi bem diferente.
- Quando alguém é retirado a força de seu ambiente de costume e enfiado em um ambiente desconhecido,pequeno, lotado, sujo, violento e sem possibilidades de saída e dentro desse ambiente não há possibilidades de atividades, chegando a passar o dia todo sentado olhando para uma parede,caro leitor, cara  leitora, dá merda. Ainda mais quando todo o seu aprendizado anterior teve como base a agressão, a competitividade e a falta de diálogo e nesse espaço só tem pessoas com o mesmo aprendizado que o seu. Se “do lado de fora” a aprendizagem já foi assim e deu errado, do “lado de dentro” melhora? Não. Não melhora. No mínimo se mantém e no máximo piora.
- Tá, agora tira essa pessoa, com toda essa trajetória, de dentro da prisão e joga no mundo de novo. Lembrando que essa pessoa entrou pobre, preta analfabeta, violenta e violentada e vai sair pobre, preta, analfabeta e ainda mais violentada. Mas agora ela pode estar sem moradia, pode ter perdido a família, se é que tinha amigos, provavelmente já não os tem mais e já se acostumou com a dinâmica do presídio. Quantas oportunidades de estudo e/ou emprego vai ter? Quão “bem” vai conseguir estabelecer laços sociais? Quão rápido vai se adaptar a nova rotina, pensando, por exemplo, que conseguiu um emprego (depois de 5 ou 6 anos sem fazer absolutamente nada)? Quanto seu corpo – e “sua mente” irá se adaptar ao ambiente extraprisional?
Enfim, não é frescura nem “defesa de criminoso”. É que a mim e a algumas pessoas que conheço parece tão óbvio que essa postura de aprisionamento e isolamento é ineficiente... E não vou entrar em detalhes sobre isso mas essas pessoas são apenas as que são mais diretamente violentadas com toda essa situação. Há aquelas que se aproveitam das brechas que esse sistema produz para cometer crimes sem que tenham reais necessidades objetivas para isso, há as pessoas que estão tentando viver “honestamente” e são assaltadas, violentadas, etc, e há as que se promovem com essa situação, como no caso do delegado citado, mas de inúmeros outros sujeitos por aí, e que não percebem, graças aos benefícios que isso traz (dinheiro, prestígio, respeito...), o quanto também são vítimas.
É realmente mais prazeroso olhar para uma cidade e não ver pessoas em situação de miséria, não ter medo de perder algum bem ou a própria vida, mas conquistar isso através da violência ou matança de pessoas é no mínimo incoerente. No mínimo. Ainda mais quando existem possibilidades de fazer diferente.
1) “Ah, mas ninguém tá nem aí pra escola mesmo, então vamos investir em cadeia”
2) “Ah, mas quem já fez alguma coisa tem que pagar por isso”
3) “Ah, mas esse aí não tem jeito mais não, nem quer ter”
4) “Ah, mas é muito mais rápido matar/prender do que ‘educar’”.
Dava pra colocar mais frases, mas to cansando. Se pá elas aparecem nos comentários e eu respondo. Enfim:
1) Se a cobrança popular é maior por cadeias e enquanto as cadeias são exigidas como uma forma barata e rápida de apartar “lixo de gente”, o investimento em cadeias será maior do que em escolas. E conseqüentemente maior que em educação. Pode não parecer, mas o desejo de maior parte da população é por cadeia. E responder que a solução pra pobreza é educação e pra violência é cadeia, é continua evidenciando o desejo que se tem por esse apartheid social.
Vale lembrar que o sistema prisional é lucrativo e tem se tornado cada dia mais, com sua constante terceirização. Não é só  o povão que quer ver gente encaixotada.
2) Se chegou a fazer alguma coisa, é por algum motivo no caminho. Mas indo diretamente ao ponto, o “pagamento de uma dívida” tem diversas maneiras de ser realizado. Há alguns poucos sistemas prisionais que, mesmo isolando o interno de seu convívio diário, oferecem a ele oportunidades de (re)socialização com acesso à educação, trabalho, lazer e tratamentos. Ninguém precisa aprender na porrada.
3) Já pensou que emprego pode resolver o problema de falta de dinheiro? Já pensou que valorização da expressão cultural (re)produzida por aquela pessoa pode resolver seu problema de carência de respeito? Já pensou também que ouvir o que uma pessoa tem a dizer pode resolver o problema de ela querer se expressar, por exemplo, batendo? Ademais, se a pessoa não sabe de fato que fez alguma coisa errada ou ruim, “pagar” por aquilo é só mais uma chinelada. Dói, mas passa. De fato, aprendizagem é algo que demanda tempo e esforço tanto de quem aprende (e está ensinando) quanto de quem ensina (e está aprendendo). Demanda oportunidade e respeito ao tempo de cada um. A impressão que temos de que as pessoas não tem mais jeito, vem exatamente da falta de investimento nelas pra que mudem. É muito fácil apontar para a reincidência de certas pessoas na cadeia, mas assim que acaba a reportagem no jornal, o máximo que é feito é criticar a “folga” e a “falta de vergonha na cara” dessas pessoas. Dificilmente se vê atitudes individuais das pessoas em prol  das outras e menos ainda se vê atitudes governamentais que sejam efetivas para a mudança do quadro.
4) Já comentei bastante sobre isso anteriormente, mas gostaria de  fazer uma última observação: Matar uma pessoa é matar, João, filho de dona Maria, Neto de seu Francisco, pai da Antônia, que cresceu no Bairro X e namorou com José durante alguns anos, antes de conhecer Cida. João é negro, gostava de samba e rap e sabia dançar muito bem. Muitas vezes ajudou algumas crianças de sua comunidade a fazer pipa. Começou no tráfico ao ver Antônia doente e dependente da enrolação do SUS e a partir do tráfico, pôde pagar o seu tratamento e comprar um Iphone. Matar uma pessoa é matar uma história. E para além disso, matar uma pessoa consistem em buscar paz por meio da prática da violência e sem a reivindicação de direitos nem pra você e nem pra aquela pessoa. É também banalizar a situação mais extrema de interferência na vida do outro, trazendo uma maior tranqüilidade para a interferência em outros âmbitos, cerceando autonomias. E assim, se formos matar a todos que estão de alguma forma incomodando... pois é...
Por fim, e agora é fim mesmo, só queria reforçar que apresentei poucos tópicos aqui. A discussão é muito mais longa e envolvem muitas outras coisas, relacionadas, por exemplo, a machismo, racismo, sistema de educação etc. Mas gostaria de encerrar perguntando e propondo a vocês:
É mesmo desse tipo de político que estamos precisando?
Tente, e não só nessa situação, se colocar no lugar dos outros atores sociais. Mas tente ir o mais longe possível. Relacione suas dificuldades e oportunidades com as dessas pessoas, o ambiente em que vivem... enfim, façam o que é chamado de exercício de alteridade.
E mais, depois disso pensem no que podem fazer enquanto indivíduos e enquanto coletivo. Lembrem-se das conquistas sociais e de como foram alcançadas, perguntem, procurem na internet ou outros meios informações sobre lutas e conquistas, duvidem, questionem... enfim, reparem bem: é possível mudar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Nota sobre a Fraternidade

Entre parnasianismos, trajes pomposos e traços revolucionários (ou não)
Acumulo privilégios, reúno ceguidores e vomito opressão.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Beck

Bianca conheceu Verônica em um festival em uma cidade que não fazia parte da rotina de nenhuma das duas. Compartilharam ideias interessantes, tinham vários pontos em comum e pouco interesse sexual uma na outra. Aparentemente aquilo poderia ser o broto de uma amizade. Mas isso não importa tanto agora, ainda que perceberão que mais pra frente isso será bem decisivo.

Verônica tem um namorado. É loiro mas usa dreads. É rico, mas tenta se preocupar. Verônica tem um Lattes recheado e está fazendo mestrado.
Bianca é universitária, mas seu Lattes ainda não é lá essas coisas. Está solteira.
Ambas andam de metrô pela cidade, mas se a coisa apertar, Verônica pode facilmente chamar um táxi e Bianca, algum parente.

Ambas queriam ir aos shows que aconteceriam na última noite do festival, estavam bastante empolgadas com a ideia e haveriam muitos shows bons. 
Na tão esperada noite, Bianca foi mais cedo. Seus planos mirabolantes(?) eram: assistir aos shows até o raiar do dia (afinal, o show que mais desejava ver era o último), dormir onde desse, ou simplesmente não dormir, ir a um almoço de despedida no dia seguinte e voltar para casa.

Chegou ao local com malas nas mãos, sozinha vestida em trajes de frio, com uma elegância alheia a seu cotidiano. Estava bastante frio, vestia botas e sobretudo, cheirava azul.
Depositou suas malas num local que pudesse ver e começou a dançar. Precisava se aquecer, mas a animação dxs presentes não deixaria que as coisas acontecessem de outra maneira. Dançou, dançou, dançou, dançou...

-Oi.
-Oi!
-Você fuma?
-Não tenho aqui...
-Você fuma? 
-Ah sim! Às vezes, mas não tenho...
-Fumaria comigo?
-... Hm... sim!

Conversa vai, conversa vem, entre pequenas informações, elogios, sorrisos e fumaça, crescia tímida uma vontade de aproximação labial... 

 Va
ga
ro
sa
men
te...

(e bem tímidamente)...

Um beijo, enfim!
E outro, e abraço, e elogio, e beijo, e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

-Espera só um pouquinho, minha amiga tá vindo e tá demorando pra chegar, vou mandar mensagem!

--meninaaa, vc disse que queria um beck! Tem um gato de dread me oferecendo um, corre! kd vc?--

e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

--tô chegando, onde vc tá?--

e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

-- em frente ao palco!--

e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

A todo momento ele olhava no relógio ou perguntava as horas.
- É que... vou confessar... eu volto de baú... e para de passar meia noite...
- Mora longe?
- Não é muito perto...
- Tudo bem, ainda temos tempo, eu te aviso!
- Tá bom! Sabe... eu nunca fiquei com ninguém assim, igual você...
-Assim como?
- Ah, assim, é difícil sabe... um cara como eu... e... ah, deixa pra lá...
- O que vc faz?
- Hm, eu trabalho. Trampo em dois lugares... E vc?
- Estudo. Tô na faculdade.
- Hey, parabéns! Faz o que?
- Psicologia.
- Nossa, parabéns! Massa!

.
.
.

Alguém puxa Bianca pelo braço. Era Verônica.
Cumprimentaram-se, apresentaram-se, e após algum tempo de interação, foram deixadas a sós por alguns minutos.
 
Verônica em sussurro (após olhar de reprovação): como isso aconteceu? Como se conheceram?

Depois de algumas breves explicações, voltaram a ser um trio, guardaram as malas em um outro lugar aparentemente um pouco mais seguro e fumaram. Puxa uma, puxa duas, puxa três vezes e Verônica diz que não quer mais.
Pouco tempo depois, chama Bianca para ir ao banheiro com ela. 

- Amiga, tem alguma coisa errada com esse beck.
- Porque?
- Vc n tá sentindo?
- Não,o que?
- Tem alguma coisa errada, estou estranha...
- Mas o que tá rolando?
- Não sei, energia ruim, não gostei, meu corpo tá estranho, bateu errado!
- Deve ser o frio, fica calma!
- Fica calma? Vc conhece esse cara? Ele pode ter colocado alguma coisa nesse beck! Vc acha que aquela hora ele foi mesmo ao banheiro?
- ...
- Vamos embora, não fica com ele mais não!
- Tá... mas sei lá, eu tô de boa, às vezes é impressão sua.
- Não é, eu tô sentindo, tô passando mal, tem alguma coisa errada!
(...)
-Ligue pra sua tia, vá para a casa dela. Não fique mais com esse cara!
- Mas e as malas? Vamos ter que voltar lá!
- Faz assim, a gente busca e vc vai. Ligue pra ela primeiro!
- Mas a gente vai como? Metrô já parou, não tenho grana pra táxi e não sei pegar ônibus! 
- Eu pago o táxi pra vc, toma, 50 dá, né?!
- Ei , eu não poss
- Pega, ligue logo pra sua avó!
- Tá...

Tudo certo. Voltaram, tentaram pegar as malas disfarçadamente mas o rapaz viu e ainda foi ajudar. Bianca e ele já haviam trocado telefone. 

- Tenho que ir, depois a gente se fala.
- Tudo bem, posso te acompanhar até mais na frente?
- Melhor não...
- Tá certo, vou ficar com minhas amigas que estão ali.
- Tá bem...



Bianca chegou na casa de sua tia, ajeitou as coisas, assistiu um pouco de TV e teve um sono tranquilo. Não viu o último show, mas recebeu uma carinhosa mensagem: boa noite, moça linda, dorme bem! E não foi Verônica quem enviou.
 


quarta-feira, 30 de julho de 2014

MEGIRO

Esse cabelo bom, sei de onde vem.
Essa cor linda, sei também.
Sei de onde vem essa coceira que dá quando o batuque se inicia.
Sei bem de onde vem esse gingado e toda a sensualidade das curvas do meu corpo, sei bem.
Mas eu, de onde vim?
Porque isso eu não sei enxergar?
Não me lembro de histórias, as rodas de casa não eram de samba, a religião nunca falou sobre orixás, nunca tive que descer o morro, essas canções, não sei cantar, como o que já foi embranquiçado... sobre os estudos, vou nem comentar.
Cadê os galhos dessa árvore da qual sou fruto mas não tenho ideia de como criar sementes?

Latinidades

Por dentro, calorosas e ricas discussões sobre plantas, eróticas, belezas e dores. Resultado de muitas letras, tantas vivências e dissabores. 

Transporte, teto e comida entre cédulas e comunhão. Palmas, sorrisos e gastos empretecendo o ofuscante branco da região. 

Passando por um acaso(?), invisível e curioso, um moço de pés descalços observa o alvoroço. Todo aquele poder feminino e preto se fazendo evidente, até que ponto acolhe e consegue abrigar toda essa gente?

Não passa

A verdade é que eu errei.
Errei feio.
Não me lembro mais como, nem onde, nem bem o porque, mas errei.
Errei e não sei consertar.
Errei e não acho que seja consertável.

Se já andava deslocada, perdida no mundo, hoje já não tenho nem mais chão onde pisar.

Não, vocês não entendem. (ou talvez entendam, sei lá)

Respondentes, operantes, associações de estímulos. TUDO na contramão de uma viela que dá pra um abismo.

Desgostar, não suportar, não conseguir, não mais querer, não saber como. É tanto não... é tanta dor.

As vezes me pergunto (sério) pra que continuar. Sinceramente, em respeito a quem me permitiu. E só.
Mas ultimamente isso tá segurando um pouco menos a corda, nem sei.

É tanta dor.

Eu tento, juro que tento. Nem sempre dá pra ver, mas eu tô tentando, tô sentindo.

Por que? Por que isso? Por que assim?

É um não lugar constante. Um não saber dilacerante. Um não ter ruidoso. E um sentir assassino.

Onde eu encontro algum sinal de que pode haver novamente a felicidade?

Pílulas, corda, cinto, salto, ervas, químicos, cortantes...

O que eu faço com isso tudo aqui dentro?

Obrigada amigas, obrigada amigos, abrigada família, obrigada pessoas desconhecidas, obrigada colegas, obrigada psicóloga, obrigada animais, obrigada plantas...

Mas não tá adiantando.

Não passa.

Não passa.

(talvez eu arranje um jeito de passar mais rápido).

sábado, 5 de julho de 2014

Territorialidade

Em um belo dia de sol
perdi meu tempo contemplando um trabalho que você construiu
enquanto você dominava o território que eu conquistei

sábado, 28 de junho de 2014

Elle

Você sabe tanto! Usa e ensina isso...
Você diz tanto! Fala mais naquilo...
Você tem tanto! Abre mão daquilo...
Você faz tanto! Faça mais e mais disso! (Ou majestosamente isso!)
Você pode tanto! Não se esqueça disso!
Você é tão! Larga dela!


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Forró gafieira

Ê nêga,
dois pra lá, dois pra cá e a bambeira nas pernas
gingado, sapateado, xêro no cangote...
Cuidado!

Cuidado com o perigo do cheiro e do sabor
com a fala doce e a escuta atenta de força, de fé, de paz violenta...
ê nêga, o que é isso heim?

Esse febril corpo trêmulo, firme, forte e ingênuo e as sensações...
ah...
nêga nêga.
Vai com calma que de passo travado a vida já chega

E esse sorriso escorrega e derrete quinemzim mantêga
Suas mil facetas, os dramas as tretas, toda a magia que diva em seus pés
Vai com cuidado, nêga
Que já é sempre bem vinda
não precisa de sufoco...
pode entrar!


(e traz a base)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

É...

É, fessor,
os sorrisos com certeza não vêm do mesmo motivo e não cumprem a mesma função.
Ela tá no momento dela, toda radiante em plena ascenção.
eu tô só me levantando e rindo de mim mesma pra aguentar o tropeção.
pois é.

É fessor,
o senhor tava certo, porém, quando disse sobre processos de ressignificação.
entrei numa cilada, disse sim na hora errada, tava boba empolgada e agora já era não tem outra solução.
Vou ter que enfrentar, fingir tá tudo bem, ir fazendo o meu melhor e tentando de alguma forma seguir nessa direção.
Ela sorri por isso, pra mim é sacrifício, é lindo mas pra outros precipícios batem mais forte o meu coração.
então.

É seguir no merthiolate, que cura mas muito arde, é arcar com as consequências de um amor de dependências que nos sorrisos guardou as lágrimas, que aos poucos vão secando, a vida vai seguindo e a poeira vai baixando um dia nesse perde e ganha me lavo dessa lama e com meu corpo hidratado vou correndo por aí, dançando feito erê e com mais naturalidade (e frequência) voltar a sorrir e tudo fica bem o que passou fica na história a lembrança no meu peito dor e cores na memória e o resto a gente vê depois que agora tenho que ir, vá com calma professor, não empolgue muito, não senhor, que o sorriso ainda sai rasgado mas um dia, deixo tudo isso em outro estado...


quinta-feira, 19 de junho de 2014

(sua) Vitória!

Parabéns, você conseguiu. Todas as minhas tentativas de ser feliz estão falhando dolorosamente. Parabéns, você alcançou o que queria. Tanto pregou que em nosso término nos odiaríamos que conseguiu a proeza de me fazer acordar chorando de raiva. Parabéns, você conseguiu. Se infiltrou em todos os âmbitos, tomou pra si todos os gostos, tornando vazios até os mais particulares e agora diverte-se, feliz, ocupando todos os espaços. Parabéns, você conseguiu. Finalmente jogou fora (ou por cima de alguém) a capa que usava fingindo ser impossível tirar. Obrigada por me mostrar o quanto sou burra, ingênua e fraca. Permaneça bem!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ooplasc



Ela sorri mas logo vem Marx, ela se deita mas logo vem a dor no coração, ela fecha os olhos e sonha com clamores militantes, ela passeia pelo parque e é seguida por crianças que pedem por seu auxílio, ela passa mal mas sequer sente.Ela quer bater papo mas batida é só de frente. Ela quer organizar uma festa mas o título tem que jorrar sangue.Ela viaja, mas a cabeça fica em casa. Ela bebe mas sequer fica tonta. Ela estanca o sangramento do coração e provoca em outro hemorragia. Ela fuma e só consegue sentir a dor do peso na consciência. Ela beija mas não consegue sentir a alma. Ela acaricia mas não provoca arrepios. Ela quer ser mas tem que o tempo todo estar. E quando quer estar, é muito mais que sua obrigação apenas ser.Ela quer dançar mas se envergonha da leveza do próprio corpo.Ela quer abraçar mas não consegue mais do que atirar espinhos.Ela quer falar mas vocifera. Ela as vezes não quer saber. Ela só queria sorrir de novo sem que isso pese uma tonelada.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Pegando palavramentos emprestadas (II)

Eu sei que você é um corpo de possibilidades. Eu sei que somos. Mas se você s´esperar o melhor, o pior, a próxima, o brilho não vai estender. Vai apagar a vontade de te querer. Mercadorias, tempo, um valor de uso? Temos um valor de tempo, tão perecíveis. Não vamos resistir. O poder. Não sorri. Não gosto de marcações sobre você. Não gosto de gostar de você, de ter gostado. Não gosto de confissões, porque eu só falo. Injustiça, raiva, uso, abuso, eu não. O que mais você é em mim além de relações declaradas de um poder silencioso de alguém?



( Ana em tons de Alice)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Geiger

CUIDADO! Ela chega sutilmente, quase que sem ser percebida. Ela é linda! Encantadora! Facilmente te seduz. Quando perceber você já a tem por todo o corpo, material e não. Lentamente ocupa todos os espaços, tempos e indefinições da sua vida. Muda tudo. Abala cada mínima estrutura. Tira tudo do lugar e te acomoda em si própria CUIDADO! Ela te põe em estado de total dependência. Nada que não a envolva faz sentido. Finalmente você percebe o que se passa. Mas é tarde demais. Ela já está maior que você. Ou simplesmente independe de você para existir e se fortalecer. Já você... A você resta tratar-se. Talvez infinitamente e sem cura. A você resta reinventar sentido pras coisas que se perderam no caminho. A você resta redescobrir o que é viver sem aquela parte já tão... Você. A você restam as náuseas, o cansaço, a dor, o medo, a insegurança... A você resta também buscar recursos para maquear o estado em que ela te deixou. E sorrir, mentindo para si mesmo que ainda que com aquela massa podre que altera completamente o funcionamento do seu organismo, você está bem. Não se esqueça de sorrir!

domingo, 18 de maio de 2014

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhh

E essa sensação chegando mais uma vez?
Essa bruta flor do querer que engulo a seco, pétalas, folhas, caule, espinhos...
Para onde foi o ninho?

mearrastomearrastomearrastomearrastomearrasto

E essa sensação chegando mais uma vez?
Essa dor da proximidade tão distante, do silencio verborrágico que sangra meus ouvidos...
Para onde foram os gritos?

 chorochorochorochorochorochorochorochorochorochorochorochorochoro

E essa maldita sensação chegando mais uma vez?
Essa angústia persistente do desejar mais não conseguir, do tentar e fracassar, sempre...
Pra onde foram os sonhos, as certezas, o ventre?

perdidaperdidaperdidaperdidaperdidaperdidaperdida

E essa sensação desgraçada invadindo mais uma vez?
Essa merda que me empurra pra outros lados e me espanca quando estou próxima de chegar [a algum lugar?]
Pra onde fui?

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! AAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! AAaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhHHHHhhhH!

Me deixa ser, de novo? me deixa sentir Me deixa ser de novo? Me deixa ser de novo? me deixa sentir Me deixa ser de novo? Me deixa ser de novo? me deixa sentir Me deixa ser de novo? Me deixa ser de novo?

 Me deixa ser?

terça-feira, 13 de maio de 2014

Pegando palavramentos emprestadas


Por Não Estarem Distraídos
 
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

quinta-feira, 24 de abril de 2014

As contradições da militância (parte 1 de algo que, ainda que não escrito, pode ser infinito)

Dolorosas.
Dolorosas são as contradições da militância.
 
- Porque você não vai naquele evento que estuda sobre sua raça/etnia?
- Vou ali vender meu tempo pra uma empresa privada.
 
 
-Já descobriu se é menino ou menina?
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sexta-feira, 11 de abril de 2014

O corpo podre

O corpo podre se desdobra em mil duzentas e quarenta e cinco curvas ou mais para, contorcente, não mover um só tecido. Controle.
O corpo podre finge não estar olhando tão incessantemente a ponto de saber todo e qualquer movimento. Olha até que seus olhos se rasguem, e sangrantes, não sentem sequer a dor de despedaçarem em partículas gelatinosas.
O corpo podre encontra prazer, insuportável prazer, em mínimos regalos destrutivos. Na histeria da fumaça que alcoólica, entorpece o grito preso à garganta e alimenta o câncer fétido de suas entranhas fracassadas.
O corpo podre suplica pelo encontro com a angústia que sente pelo vazio de seus pensamentos estúpidos insurgentes da não aceitação da liberdade jovem e delinquente que o cerca.
O corpo podre alimenta-se, miserável de sorrisos cordiais e benevolentes que acolhem, nauseados seus lamuriosos lamentos cansativos.
O corpo podre implora para encontrar em suas mais sublimes qualidades os mais monstruosos defeitos carnificinantes e tortura-se ao exaltá-los.
O corpo podre não sabe o que fazer. Ele só precisa, desesperadamente, indisciplinadamente, ilimitadamente, intensamente, amar.
O corpo podre está morto. 
De com pon do se.
Decompondo-se na insuportável imposição que é o viver.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

1° de Julho

Engraçado, acho que nesse blog eu nunca falei sobre música... mas essa tá na minha cabeça há alguns dias e eu resolvi dar um pouquinho de atenção a ela hoje ( é o excesso de coisas pra fazer que me faz parar pra fazer coisas que não são "obrigatórias" rs).
Então, procurei brevemente uma interpretação sobre ela na internet (quem não quiser ser influenciadx, por favor, teça sua interpretação, poste nos comentários -por favorzinho!*-* mas só se quiser, claro- e depois continue a ler) e encontrei as seguintes:

Interpretação um
Interpretação dois

Além dessas, vários comentários que seguem a mesma linha, a questão da maternidade. Tudo bem, o Chicão, aquele lindinho, nasceu no dia 1 de Julho, tio Renato deu essa música à deusa Cássia quando ela tava grávida então sim, a relação de maternidade faz mesmo todo sentido.
Mas eu sempre penso que o tio Renato vai muito além (mesmo quando o cachimbo é só um cachimbo...), então resolvi ir na ~mais confiável~ fonte de pesquisas do mundo (a mesma que eu usei pra buscar as informações acima) e descobri uma coisa bem interessante acerca do dia 1° de Julho:

Uma lei.

Não vou me estender por aqui. Formulem suas próprias conclusões... (Quem quiser minha opinião mais detalhada, peça nos comentários!) Mas a ligação entre ambas, a maternidade e a lei, pra mim é tão forte... E eu não acredito em coincidências né galere...

Beijinhos pra vocês!


sexta-feira, 28 de março de 2014

Parece que o sol entrou pela janela
O moço bateu à porta
O prédio desabou
Mas não eram nossos corpos
De conchinha no meio fio
Bem no meio da avenida

Desaba fo

Quanto mais eu vivo mais tenho a certeza de que estou apenas invadindo espaço físico, desperdiçando recursos naturais e gastando em vão a energia de quem está a minha volta.
Não vejo espaço, momento, coragem ou força para me "impor" enquanto eu mesma. Nem sei se isso existe mais. E nem sempre quero, também. Já me acomodei.
É triste ver o quanto as pessoas mudam por mim. O quanto batalham para me ver bem, me ver feliz. O quanto se esforçam. É realmente muito triste. É que eu já não consigo mais. Não consigo fazer mais nada por elas além de provocar, às vezes algumas risadas. Mas não se iludam, queridxs, logo, bem em breve as farei chorar. É isso que faço.
Quando havia a lógica: transformar - sumir - recomeçar, contínua e eficiente, nossa, como era bom. Não havia tempo de ferir as pessoas. Era no máximo saudade, e  olhe lá. Mas parece que agora não tem mais como fugir (quando acontece de haver alguma transformação). No máximo bagunço suas vidas e muitas vezes nos aprisiono nelas.
Midas, talvez.
Não desisti ainda por dois motivos: a lembrança (ou ilusão) de que no passado alguma coisa já dera certo e a esperança, para xs religiosxs de plantão, de que no futuro eu possa construir, sozinha, minha cabana isolada no meio do mato.
Talvez eu tatue na minha testa: não se aproxime. Ou talvez eu te beije.
Cuidado.