O corpo podre se desdobra em mil duzentas e quarenta e cinco curvas ou
mais para, contorcente, não mover um só tecido. Controle.
O corpo podre finge não estar olhando tão incessantemente a ponto de
saber todo e qualquer movimento. Olha até que seus olhos se rasguem, e
sangrantes, não sentem sequer a dor de despedaçarem em partículas gelatinosas.
O corpo podre encontra prazer, insuportável prazer, em mínimos regalos
destrutivos. Na histeria da fumaça que alcoólica, entorpece o grito preso à
garganta e alimenta o câncer fétido de suas entranhas fracassadas.
O corpo podre suplica pelo encontro com a angústia que sente pelo vazio
de seus pensamentos estúpidos insurgentes da não aceitação da liberdade jovem e
delinquente que o cerca.
O corpo podre alimenta-se, miserável de sorrisos cordiais e benevolentes
que acolhem, nauseados seus lamuriosos lamentos cansativos.
O corpo podre implora para encontrar em suas mais sublimes qualidades os
mais monstruosos defeitos carnificinantes e tortura-se ao exaltá-los.
O corpo podre não sabe o que fazer. Ele só precisa, desesperadamente,
indisciplinadamente, ilimitadamente, intensamente, amar.
O corpo podre está morto.
De com pon do se.
Decompondo-se na insuportável imposição que é o viver.