sexta-feira, 28 de março de 2014

Parece que o sol entrou pela janela
O moço bateu à porta
O prédio desabou
Mas não eram nossos corpos
De conchinha no meio fio
Bem no meio da avenida

Desaba fo

Quanto mais eu vivo mais tenho a certeza de que estou apenas invadindo espaço físico, desperdiçando recursos naturais e gastando em vão a energia de quem está a minha volta.
Não vejo espaço, momento, coragem ou força para me "impor" enquanto eu mesma. Nem sei se isso existe mais. E nem sempre quero, também. Já me acomodei.
É triste ver o quanto as pessoas mudam por mim. O quanto batalham para me ver bem, me ver feliz. O quanto se esforçam. É realmente muito triste. É que eu já não consigo mais. Não consigo fazer mais nada por elas além de provocar, às vezes algumas risadas. Mas não se iludam, queridxs, logo, bem em breve as farei chorar. É isso que faço.
Quando havia a lógica: transformar - sumir - recomeçar, contínua e eficiente, nossa, como era bom. Não havia tempo de ferir as pessoas. Era no máximo saudade, e  olhe lá. Mas parece que agora não tem mais como fugir (quando acontece de haver alguma transformação). No máximo bagunço suas vidas e muitas vezes nos aprisiono nelas.
Midas, talvez.
Não desisti ainda por dois motivos: a lembrança (ou ilusão) de que no passado alguma coisa já dera certo e a esperança, para xs religiosxs de plantão, de que no futuro eu possa construir, sozinha, minha cabana isolada no meio do mato.
Talvez eu tatue na minha testa: não se aproxime. Ou talvez eu te beije.
Cuidado.

domingo, 23 de março de 2014

Sobre a dor e o saber doer


Samba e Tango

Acho que é isso.
Na dança da vida as coisas precisam ter ritmo para funcionar.
Não há uma coreografia universal, a fluidez da alma não permite. Há ritmos.
E eu não consegui acompanhar o teu, querida.

Meu índie lamurioso não se harmonizou com sua rabiosa música cubana.
Sou dessas que dorme depois do sexo
Sou dessas que faz questão de se sentar quando há cansaço e comer quando há fome
Sou dessas que deixa "pra lá"
Sou dessas que procrastina
Sou tantas e tão poucas...

Mas é isso mesmo. Continuo sem entender o que deve ser feito para amadurecer o suficiente para estar com  o outro tão outro. Aprendi muito, isso é fato. Obrigada por me apresentar tantos sons! Mas não foi suficiente. Não só de passos se compõe uma dança.

É preciso ritmo.

Pigarro

Quando por tristeza ou vício 
A fumaça perde a graça
É tudo um grande desperdício

sábado, 22 de março de 2014

Aborto

Sempre achei nove meses um tempo grande demais pra manter presa uma criatura à outra.
Mas de um tempo pra cá vinha me acostumando com a ideia. As consequências pareciam ser bem mais vantajosas que o tempo de espera. Coloquei isso firme na cabeça, passei a acreditar seriamente. É isso.
Colocar um novo ser no mundo, educá-lo à sua maneira, ensiná-lo a ver o mundo com olhos diferentes dos daqueles que me provocam repulsa, vê-lo e enfim, desabrochar como uma linda borboleta que sai do casulo depois de tanto tempo. E voar por aí.
Chegou o momento.
No primeiro mês, tudo maravilhoso! Não só eu apaixonadíssima, mas todos ao redor, experimentando aquela sensação nova de mudança de uma vida, de mudança de rotina. Naquele momento em que alertas são verbais, pássaros cantam mais afinado, dores são curadas com beijinhos e almas se encontram para se conhecer.
Segundo, terceiro, quarto mês e o ritmo se mantém. Algumas dores na coluna, mas nada que não possa ser rapidamente resolvido com alguns palavrões “sorridos”.
Quinto e sexto mês e as dores na coluna aumentam consideravelmente a freqüência e intensidade. Os chutes e soluços, as insônias, os medos, inseguranças... todos juntos, de uma só vez, para meu desespero... mas eu não queria desistir. Não mesmo! Nos mantivemos firmes.
Sétimo mês e alguma coisa dá muito errada!
Pessoas de todo lado tentam socorrer, apelo pra medicina alternativa, pra sublimação, pra militância... qualquer coisa que me faça salvar essa criatura e a mim. Ufa! Parece que foi alarme falso. Parece que tudo está bem.
Oitavo mês e já não dá mais. Não dá mais pra esperar o nono. Os palavrões que há muito já não são sorridos, agora vociferam animalescos, sem pudor. Os chutes, soluços, insônias, medos e inseguranças encobriram o brilho nos olhos. A medicina alternativa agora só direciona para um fim trágico. A sublimação ainda é válvula de escape, mas parece que pra uma coisa já determinada. A militância também e essa ainda acaba prejudicada... Eu queria salvar a criatura em mim, mas ela precisa se libertar.
Acho que toda a dificuldade do processo esteve o tempo todo em não perceber que pessoas não são massas de modelar. Que não dá pra controlar tudo e principalmente, que nem tudo sai como queremos e nem deve ser assim.
Pois vá, então, criatura! Liberte-se! Voe! Siga o fluxo natural das coisas!


segunda-feira, 17 de março de 2014

ZigZag, Colinho e Malandragem!

Não é preciso ficar longe pra sentir (dor de) saudade.
Nem é preciso terminar pra recomeçar.
Não é preciso ir pra voltar.
Basta saber dançar.

sábado, 15 de março de 2014

Lista de compras

A 21 ruas abriu um hipermercado. Fui conhecer e levei uma listinha de compras:
* 1l de impedir a continuidade de um relacionamento;
* um pacotinho de 50g de fumar sem medo;
* 3 sacos de 5kg de beijar sem culpa;
* 1,5l de transar sem amor.

Mas tava tudo muito caro.

Fui à mercearia da dona Marilene, aqui perto de casa mesmo, comprei 1,5kg de desejo silenciado, 2kg de peso na consciência, apoiei 10g de sexismo, fumei sem estar com desejo, bebi umas porcacarias pra anestesiar e o resto... Engoli a seco com farinha.

Foi bem mais barato.