sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Onde por?

Onde por aquele ensaio fotográfico, que não parece conveniente no momento atual?
Onde por aquela música gostosa, que é toda, verso e prosa, dedicada àquelx tal?
Onde por aquele dia bem friozinho que combina com carinho e um encontro horizontal?
Onde por aquele textinho safado, que se olhar meio de lado encaixa de frente e ...al!
Onde por aquele belo passarinho que na foto fez um ninho e no ouvido, recital?
Onde por aquele sentimentozinho que reclama bem baixinho: pra onde é que eu vou agora?
Posso por pertinho ali do por do sol, ponho no bolso da calça ou mando ele ir embora?
(Se é que ele vai...)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Injusto

Esse blog é todo tão tanto que se botar num canto já nem serve mais do que que eu to falando? Acho que o espanto só provém do encanto que briga com o pranto e sei lá mais o que

(Prometo que (não) vou tentar reverter essa situação)

domingo, 28 de agosto de 2016

Trouxa

A verdade é que nunca foi seu.
Havia espaço nela. E somente nela. Mas o espaço ocupado nela era indesejado por todos. Não era pra você estar ali. Atrapalhava, pesava a bad, era chato, incômodo. Mas nada poderia ser feito. Ela queria que você estivesse. Pobre dela.

A pressão, entretanto, transborda. Ela ainda não sentia, ela sentia e interpretava de outra forma. Ela transparecia sem compreender, mas não vinha dela. Ela só queria que você estivesse ali. Mas não era pra você estar ali.

Você começou a perceber, afinal pra que mais servem os sentidos? Tentou reagir, lutou, mas o sopro ventava nela. Eles perceberam. Vendaval. Ela era forte mas o fôlego vai se acabando assim como as estruturas de sustentação.

Há quem tivera coragem. Dançou com o vento pra depois construir barragem. Vento é forte, mas quem abala carne, osso e ferro? Em parede forte se pendura o que quer, inclusive ar condicionado.

Ouviram-se os aplausos. Pelos buraquinhos ainda passava a brisa, mas a fumaça leva pra longe qualquer cheiro ou possibilidade de se respirar sem peso.

"Você tem outras amizades, outros rolês"

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Zaz

Traumas
Traumas
As coisas crescem
Começa assim
Tá apressadinha demais
As coisas crescem
E começa assim
Olha o presente
Olha o agora
Deixa o depois pra depois
Mas as coisas crescem
E começa assim
Memórias

Além do por do sol

Deixar ir é também um jeito de amar
Vai quem é de vôo
Mas a dor que fica é de lascar

domingo, 21 de agosto de 2016

Corra

Corra
Contra o céu
Contra o espaço
Contra o tempo
Contra o cansaço
Contra as vontades que insistem em te rodear

Corra
Contra a chuva
Corra rápido
Pela vida
Corra sempre
Corra e escorra
No luar

Corra contra esses tais pensamentos
Contra os alertas violentos
Contra o peso dos momentos    sós

Corra
Contra o vento
Contra a brisa
Simplesmente se mantenha correndo
Não pare
Não há lugar

Do tudo ao nada

É claro que vejo.
É claro o que vejo.
Achas mesmo que não sei?!
Ainda fico nessa estúpida tolice de prestar a atenção em (quase tudo), sofrer com (boa) parte do que experiencio, te amar por tudo, te odiar por tudo.
Achas mesmo que não sinto?!
É sério isso?
Limbo, corda bamba, não saber (ainda que fazendo). Tudo ainda sinto. Tudo ainda dói. Tudo ainda quero. De (quase) tudo ainda sei.
Eu só queria que aleatória ou casualmente a gente pudesse se comunicar. Pelo menos por uns instantes. Estou cansada dos papéis que escrevestes para mim. Exausta dos que escrevi. Tentando (re)escrever, (re)significar...
E só pra que se faça registro:
Eu só não sei sobre o que me é completamente velado. Mas eu só não sinto o que definitivamente não conheço, sobre o que não sei nem vestígios. Não se iluda, querida. Eu ainda te amo.

Desmim

Estou tão cansada de achar que tudo que eu escolho é uma merda.
Tudo que eu faço é uma desgraça e o que vem de mim não vale nada.
Você se apaixona pelo que? Te objetifico, sou grossa, autoritária, intolerante. O resto, do chorume, do lixo que eu mesma produzi.
Eu to cansada de não saber onde me apoiar, por que me sinto um peso ou por não saber onde firmar.
Finamente! Decidi o que eu quero, mas o que eu quero não condiz com a realidade, não serve pra nada ou não traz a minha verdade.
Eu to cansada de me sentir excesso, excessão ou de pisarem em ovos em minha presença. E eu sei que é também responsabilidade minha que to constantemente tensa.
Olha só, tomei outra decisão: to deixando partir um pedaço do meu coração.
Por quem você se apaixona? Pelos meus beijos gostosos? Pela aparência agradável? Pela imagem de segurança e poder? Pelas cores que eu pinto em você? Vou te contar então pra tu não se iludir: é tudo mentira! Grossa, estúpida, impaciente, intolerante, burra, chata, impotente e infeliz. É isso que habita nesse corpo que tu quis. E não adianta tentar que não muda de astrologia à academia tá comprovado: não presto. Não sirvo. Melhor deixar de lado.

Eu não sei mais o que eu to fazendo aqui. Se não fosse essa bosta de amor já tinha ido. Essa dívida maldita que me segura nesse mundo... Porra, se tivesse outro jeito de pagar... Porra, se pudesse não me preocupar em estar devendo...

Nem pra rimar eu presto.

Que saudade do mar de Vitória...

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Li e aceitei

Aham


































Boto fé.























Concordo planamente com tudo o que você disse. Deve ser paia mesmo.












Mas entra aqui nessa gavetinha.

Que eu te tiro dela.

Quando for melhor pra você.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Exposição

Você não faz ideia, cara. Eu to falando é daquela saudade que dá de reunir uma caralhada de gente aqui em casa pra gente rir. A gente brinca, joga, canta, dança, sabe aquele rolê tranquilo? Felizão.
Mas e o medo? E esse medo de gente? E esse desespero que me impede de chamar, de reunir, de tentar, de me envolver nesse role que eu amo tanto e não consigo. Não cara, vc não sabe o que é lidar com essa carência, e esse medo desgraçado da vivência, e essa angústia que retira dos melhores momentos, a inocência. Eu quero vc aqui mas me esforço 100% pra não te expulsar quando vc chega e adentra a esse nosso lar que sim é seu, mas não consigo mais lidar. Você entra nessa porta e a vontade é te expulsar. Não é fácil,caralho, lidar com esse sofrimento. Por algum tempo é bom depois começa o tormento. Desconforto, irritação, tudo fora do lugar. Alguns ficam mais tempo outros menos, assim não da. É paia demais, esse deslocamento, medo de grupo, de viagem, "coletivo" é tormento. Vocês acham que me protegem  saindo do lugar, mas não faz a menor diferença, a escolha já foi feita, a seleção já é sentença, eu sei. Eu não sou é nada fácil, eu me odeio, também não me agüento mas esforço pra caralho, desculpa! Não queria mas to aqui, tentando aguentar, tentando me divertir e te fazer rir. Esse é o único prazer. Eu sei que ceis evitam alguns manos de morrer, eu não consigo. To no passo da formiguinha. Se a carência deixasse eu me mantinha era na minha, mas não dá. Por mais um tempo eu to aqui. Logo me despeço e esse peso vai sumir.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Masoq?!

As pessoas me sugam toda a paciência
Eu respondo
As pessoas me elogiam, agradecem, pedem por vínculo
Pelo amor de deus,
pessoas
Deixa eu te odiar
Em paz

domingo, 17 de julho de 2016

Na (preta) caminhada

Começo a compreender mais um aspecto. Que dor é saber. Neste barco tenho navegado sozinha e não sei bem como reverter.
O que foi pra mim esse fim de semana, quem cola junto nunca vai entender.
As outras minas ou são íntimas demais ou íntimas de menos pra se dizer.
Dread, moicano, raspado e raiz, muito carinho e prazer.
Vou levar na memória pra sempre (?), esses sinais do (re)conhecer.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Conexão

Se todas as coisas que penso em escrever viessem pra cá esse blog seria repleto de palavras. Muitas mesmo.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Poema

Se eu tivesse facilidade com sexo
Se eu soubesse transar
Vendia meu corpo
ganharia muito dinheiro
Pra comprar fuga

sábado, 4 de junho de 2016

A dois passos da alforria

Talvez tenha sido disso que eu sempre fugi. Essa dor que sempre evitei. Não consigo deixar de me perceber covarde, apesar de ser comigo.

A senhora catadora de latinha que saiu sem saber se era bem vinda. Talvez sabendo que não era.

O senhor bêbado, vigiado e escarneado.

O rapaz do eixo, jogado violentamente ao chão.

Perdi a cor de quantas vezes nada fiz.

E continuo preta.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

domingo, 29 de maio de 2016

De cada dia

Hoje o olhar da fotógrafa
Me acertou em cheio
E doeu tanto
Quanto o corpo do preto
Jogado no chão do eixo
Não sei o que tava fazendo
Só deu tempo de ver sua cor
E seus pés descalços correndo
E a bolsa sendo protegida
Do olhar da mulher colorida
Que sequer a tinha visto no chão

Tornar-se

Da classe, a surdez do conforto
Da cor, a excessão
Dos hábitos, o exotismo
Dos espaços, a permissão
Das relações, insegurança
Do amor, opressão
Do pertencimento, busca incessante e exaustiva
Do desejo
Do desejo...
Desejo?
Desejo!
Liberdade e união!

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Ferida aberta

Silêncio

Com frequência temos, eu e minha mãe (e com certeza a rua toda de moradores), sons estranhos, que não consigo identificar mas costumo descrever como mais "baixos que tiro de canhão e mais altos que tiro de revólver". Aconteceu a primeira vez a uns três dias. Foram três, espaçados entre si. Pássaros voando espantados, minha gata, Bia, de olhos arregalados me perguntava visualmente o que era aquilo. Nos assustamos, não sou de me assustar mas foi inevitável. Dia seguinte novamente. Comentei no Facebook e ninguém mais além da minha irmã, que mora no andar inferior, conseguiu ouvir. Ninguém, por conseguinte, sabia dizer o que era. Hoje pela manhã acordei com eles, um, depois outro seguido de outro bem próximo, e por fim mais um. Acordei e por incrível que pareça senti raiva por pouco tempo (odeio ser acordada). Comecei a imaginar o que poderia ser. Molotov dentro das grandes lixeiras metálicas? Fogos de artifício daqueles que só fazem barulho e fedor? Uma nova arma? Fiquei um tempo imaginando essas possibilidades. Viajei muito com o molotov. Estava divertido. Passada mais ou menos uma hora, outros pensamentos já haviam irrompido em meu agitado campo imaginário, decidi levantar da cama. Algum tempo depois foi a vez da minha mãe. Pouca prosa e o assunto já veio à tona. "Ouviu o barulho de novo?" "Ah, mas não tem como não ouvir né?!" "Quem será que está fazendo isso?" "Ah, mãe, não faço ideia mas imagino"

Veio tão abruptamente que pela primeira vez na vida que me lembre parei imediatamente minha fala, sem o menor sinal de continuidade, exatamente no momento em que estava. Sinceramente não me lembro de ter sido tomada por lembranças de forma tão brusca outrora. Foi como se as memórias me tivessem socado os lábios antes que eu pudesse ver sua bruta mão se aproximando.

Parque Oeste Industrial.

Primeiras "missões" de desocupação.
Sirenes das viaturas ligadas, barulhos ensurdecedores e enlouquecedores durante toda a noite para que não houvesse descanso, para que não houvesse tranquilidade, para que não houvesse paz.
Crianças, homens, mulheres, velhos, animais, velhas, jovens, bebês, recém nascidos, bisavós, trisavôs, netas, genros, noras, amigos, primos, filhos, filhotes... 
Ruídos, muitos ruídos para que não haja descanso.
Para que não haja descanso.
Para que não haja descanso.
Não haja descanso.
Não haja descanso.
Não haja.
Não haja.
Não aja.
Não aja.
Não.

Poucos (sobre)viveram.
Poucos (sobre)vivem.


Eu podia parar por aqui. É mais meu estilo e considero mais poético.
Mas eu preciso dizer o quanto me senti feliz ao imaginar meus vizinhos acordando com aquele som infernal depois daquilo.
Eu preciso dizer que quero mais é que se fodam, que se quiserem descanso, enfiem as malditas panelas, vuvuzelas, apitos e gargantas que ruidosamente berraram pela conservação do patriarcado, pelo 33x1, pela morte aos negros, pela tortura a mulheres e homossexuais e tantas outras desgraças que a pouco estavam apoiando, orelha a dentro.
Eu quero mais é que esse som ecoe, e que se for preciso, com ele eu vá.

...................................................................................................................................................................

Que irônica a vida. 
Começando a escrever esse texto, ouço berros próximos de casa. Nada que eu conseguisse entender até a clara (mas não branca), audível (e espero que ruidosa), grotesca (e fortemente marcante) voz não sóbria que alertava: EU VOLTEI!



quinta-feira, 26 de maio de 2016

Temporal

É, meu amor
Espero que um dia me perdoe
Por acusar-te de lentidão
Lento foi o tempo
Que demoramos pra perceber
Que temos tempos diferentes
E em cada nosso tempo
Há um temporal de saber

segunda-feira, 23 de maio de 2016

TPM

Quando o sangue está pra chegar
Todas as dores com ele vêm junto
Todas as dores do corpo e do mundo

domingo, 22 de maio de 2016

Contraconto (supostamente) leonino

Cidade pequena, próxima a um confinamento. Muito de pacato, tanto de tormento. Postos de saúde em crescente lotação, estômago, intestino, virose, sofrimento.
Um vendedor, bruto e impositivo, esbraveja sem temor: vocês tão bebendo bosta!

Vocês tão bebendo bosta!
VOCÊS TÃO BEBENDO BOSTA!

Quanta grosseria! Quanta ousadia!
Agora que tomo água do poço artesiano, estou tão melhor, quem diria?!

Eis que de repente chega uma figura aberração. Desçe da espaçonave um ser ser explicação.

Vegetarianoque? Qual é mesmo a explicação?

Seria promessa?
Religião?
Coisa de gente da cidade?
Ah, isso na verdade é frescura! Coisa de quem quer chamar a atenção!

E acabou a porra do poema.
(A verba pra educação tem selo Friboi de garantia)

sábado, 14 de maio de 2016

aborto castração

O que será que se esconde
Por traz do desejo "tão ambíguo"
De ser mãe e não ter que ser mulher?
Parece-me tão óbvia a resposta
Que não faço a menor ideia

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Eita

Sintoma

S i N t o m a

Sin t amo

Ops

Pra não dizer que não falei de amor

É tiro pra todo lado
Desemprego
Dívida
Falta de grana
Falta de saúde
Falta de educação
Falta de comida
Falta de respeito
Falta de dignidade
Falta de teto
É mentira
É Trapaça
É Violência
Morte, suicídio
Homofobia
Transfobia
Lesbofobia
Racismo
Opressão de classes
Opressão estética
O mundo sendo destruído
As pessoas sendo destruídas
Tudo despedaçando
E eu aqui
Chorando
Desesperadamente
Por você

sábado, 30 de abril de 2016

Torpe. Do

Um recado tardio(?)
Num momento estranho(?)
Por mais que eu tente fugir
Negar, dar outros nomes
Das maneiras mais inusitadas
(Re)descubro e fico assustada
Com o quanto eu te amo

segunda-feira, 11 de abril de 2016

P A

O primeiro tá aí. Mas não tá.
O segundo abusou da vida. E morreu.
O terceiro morreu.
Teve aquele. Que também já foi.

Como será que eles ficam?

sexta-feira, 25 de março de 2016

A gata

Apareceu no bairro.
Na real não sabíamos o sexo.
Mas era a gata.
Começou com cafuné.
Cafuné e ração de adulto.
Cafuné e ração de criança, adequada. Doaram pra gente.
Cafuné, água, ração de criança, colo...
Todo dia esperando nossa chegada.
E mais cafuné, mais água, mais ração de criança, mais colo.
Vamos por pra dentro.
Garagem.
Travesseiro, caixa de papelão, cafuné, água, ração de criança, colo.
Três dias.
O suficiente para haver implicância.
O suficiente para aparecerem pelos no sofá do hall.
Tiros de chumbinho percorriam o bairro.
Mas aqueles olhões verdes e aqueles miadinhos doces sempre foram mais espertos.
Três dias.
Burburinho, medo. Medo de veneno, medo de pneu, medo de pontapés...
Três dias.


O terreno baldio.
Mega estrutura.
Caixas de papelão, base de madeira e travesseiro.
Comida protegida das vistas alheias.
O apartamento perfeito.
Choveu.
A caixa é de papelão.
Onde será que ela está?
A comida, será que molhou?
O travesseiro com certeza enxarcou.
Choveu.
Ventou.
Não parou de chover.
Três dias.
E choveu no dia em que foi para o terreno baldio.
Três dias.
E a covardia se precipitou.
Três dias.
Que fim levou?
Será que voltou correndo para o sofá?
Será que se molhou?
Três dias.
Escolhemos exatamente o dia errado.
Três dias.
Três malditos dias.

As vezes penso que são assim as escolhas, todas, da minha vida.
Acovardadas.
Imbecis.
Erradas.
Vinte e três anos.
Três dias.
E uma chuva.

eu acho que não gosto de lembranças

Arrumando as coisas pra tentar uma vida nova
Me deparo com tantas lembranças de tantas vidas novas que foram tentadas
Dá uma vontade tentadora
De morrer

caixa

Você anda na rua e sente que nada, absolutamente nada que você (pelo menos acha que) consegue fazer, nada do que tem feito e nada do que planeja fazer faz diferença. Nada tem sentido.

Você chega em casa e vê que tudo o que fez e o que está tentando fazer e em vão.

Você sente falta.

Você sente raiva.

Você sente dor.

Você se sente perdida. Fraca. Inútil. Triste.

Você sorri.

Diz que tá bem.

Tenta acreditar.

E morre mais um pouquinho.

Desejando ter a coragem daqueles que realmente consegue partir
fodendo com a vida de quem fica.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Ser em casa

Ser preta em casa
e lidar com as tentativas da mãe (preta) de exibir seus crespos, e as risadas debochadas de quem os vê.
E tantas outras coisas.
Ser feminista em casa
e lidar com a observação da irmã de que está feliz agora que depilou já que estava com "suvaco de homi".
E tantas outras coisas.

Ser não heterossexual em casa
e lidar com o "xingamento" proferido pela irmã, também não heterossexual, de viado.
E tantas outras coisas.

Ser mulher em casa
e lidar com as críticas ao tamanho, formato e modelo de roupas escolhidas por outra mulher na rua.
E tantas outras coisas.

Ser psicóloga em casa 
e lidar com a depressão e a falta de comunicação que permeiam o ambiente familiar.
E tantas outras coisas.

Ser enteada em casa
e lidar com o luto do padrasto.
E tantas outras coisas.

Ser eu em casa
e não saber lidar
com nada disso.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sal

No dia em que eu parar de chorar
a cada vez que falo contigo
vou saber que posso te amar
sem ter medo do perigo.

quarta-feira, 16 de março de 2016

demais

Tão melhor sem mim que fico me perguntando por que um dia abriu essa porta
Dói

E la

Boa com as palavras
Péssima com as pessoas 
Quer morrer
Se culpa por tudo
Te ama
Péssima com as palavras 

quarta-feira, 9 de março de 2016

domingo, 6 de março de 2016

non-sense

De tanto privar-se de sentir
(Talvez para evitar a dor, para garantir o prazer de outrém, manter-se no controle, talvez tudo junto)
Não acessava mais suas sensações
Nada mais fazia sentido
Sequer sabia como continuava escrevendo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O programa

Descobrira um programa que através de hipnose desativara a capacidade de controlar impulsos
Resolveu experimentar
Após a aplicação, saíra para o teste
Salvara três gatos de atropelamento
Chutara duas motocicletas, causando terríveis acidentes
Gritara de alegria
Salvara sete cachorros
Agredira quatro homens e uma mulher
E finalmente
Salvara a seus desejos
Segurando firmemente
Um fio de alta tensão

Lego

Não trocar o certo pelo duvidoso
O prazer pelo gozo
A ação pela tentativa
A foda pela conchinha
A velocidade pela ausência

Nossa semelhança confirma a repetição
E auxilia na ascendente transição

Ela pesa na sua decisão

Siga em frente, querida, não olhe pra trás
Logo eu desapareço
Do seu corpo ela já fez morada
Já não é meu ninho
Não nos devemos nada

Nosso calor nosso encaixe perfeito
O sono tranquilo, coração,odor, peito
Que sejam lembranças doces e facilmente ignoradas

Não pise mais nessa areia movediça
E não peça desculpas
pelo beijo
de despedida 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

5º andar

1 página de cada vez
página 6(?)
saia da sua zona de conforto e faça alguma coisa que você nunca fez antes
matou-se

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

.

Incompreensão
Atravessamentos
Interrupções
WhatsApp
O novo meme
A música boa
O tropeço cômico
Desinteresse

Falar é tão


Cansati

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Escravidência

Pontuo, virgulas
Afasto, aproximas
Nego, impões

Consigo, sobrepujas
Adentro, ocupas
Mata-me de uma vez
Ou deixas-me viver






fantasias

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sobre ter que ficar

A morte, quando separa o brilho dos olhos e os olhos dos olhares brilhantes, essa dói. É tatuagem e como tatuagem, marca o corpo pra sempre. Mas um dia o corpo se acostuma. Torna-se corpo. Pode ser coberta com outra tatuagem, pode ser removida em procedimento cirúrgico, pode perder a tinta, virar apenas um borrão, mas estará lá. O corpo marcado e preso à aquela marca. Acostuma-se. Vive-se.

A morte entretanto, quando separa corpos dançantes, quando desvia olhares e redireciona sorrisos, essa dói. É escarificação diária. Marca o corpo sem dar tempo de cicatrizar. O corpo rejeita, desequilibra, desorienta. Ela persiste. Existe-se. Resiste-se. Resiste-se?