quinta-feira, 16 de abril de 2015

inapropriado

a casa.
ela não é minha.
as roupas.
não fui eu quem as comprei.
a comida.
não fui eu quem preparei.
as palavras.
não fui eu quem as inventei.
a dor.
nao fui eu a primeira a sentir.
o sentido.
não fui eu quem produzi.
a vida.

coisas pra se gargalhar num gargalo

Sinto inveja.
Engraçado como não procuro no abstrato significação para o concreto.
É engraçado como o concreto me rasga torto a cada gota de abstrato que pinga pútrida, tóxica e fétida.
Morre, diabo!
Morre, diabo!
Morre
Morre
Morre!

Sai de mim centelha de vida maldita que insiste em me insistir.



E sobe até o andar em que moram os salvadores do mundo. As detentoras da verdade.
As promotoras da paz.

Há tanto tempo que morri.

Há tanto tempo que morri.
Por vezes chego a duvidar do meu nascimento. Mas tem-se que nascer para morrer.
[há controvérsias]
Desconfio de quem se importa. Não respeito muito. Mas acho curioso. Nem sempre me contraponho.
Eu não me importo.
Apesar da dor, há consciência.
Puxo para meus pés o cimento do chão. Ou o barro. Ou a lama. Ou a areia. Ou as pedras. Ou as plantas. Ou o vidro. Ou o aço. Ou o alumínio. Ou o carpete. Ou o plástico. Ou a madeuira. Tanto faz.
Carmem  morreu hoje. Ouve-se gritos, ouve-se choro, vê-se imagens, escreve-se leis. Pessoas sorriem.
Marco Aurélio morreu antes de ontem.
Kelly Odete vai morrer amanhã. Vai apanhar. Vai ser estuprada. Vai ser mutilada. Vai ser humilhada. Vai doer. E provavelmente ninguém vai ver. Nem se lembrar.
Ouve-se gritos, ouve-se choro, vê-se imagens, escreve-se leis. Pessoas sorriem.
Anderson morreu semana passada.
Catarina foi xingada na escola.
Aroldo não é ouvido.
Ruana não consegue se locomover na cidade.

Valdirene perdeu o emprego porque é [escreva aqui uma característica qualquer].
E Jonas vai debater sobre isso que é o projeto de pesquisa de Natállia que está sendo motivada e orientada por Jobert Torres Figueiredo que foi às ruas na juventude ao lado de Andriléia Galvão que é a funcionária pública que elaborou o projeto de lei que entrou em vigor mês passado e deveria assegurar que a cunhada do Alaor não tivesse que estar no enterro do filho do Zé Maria que morreu defendendo a idéia que foi debatida em um sarau que participou na terça porque era de graça e terminava antes da meia noite e que foi promovido pelo coletivo do qual Jonas participa que tá sempre debatendo e promovendo reuniões abertas e populares lotadas por uns 15 ou 20 estudantes universitários desses bem revolucionários. Dentre eles uns 8 cotistas.

E dona Noêmia vai ficar preocupada porque ouvi a Katiléia dizer que o Lucyano ( que chama todo dia o filho de pecador porque é gay) tá juntando o pessoal pra organizar uma cooperativa na comunidade pra ver se resolve alguns problemas da escola do Mateus e da Tatielly (que apanha do Brunin por ser sapatão). É que lá as crianças que estudam tão desenvolvendo um projeto pra ajudar as crianças que tão por aí usando drogas por meio da música e da dança. Só que tá faltando água, luz e o teto ta furado. Mas com muito sacrifício a dona Amália (aquela que expulsou a filha de casa porque ficou prenha antes de casar) tá conseguindo cumprir com sua missão nesse projeto que é dar uma chance pra essis minin, como ela diz, largá as droga e entrá na vida. No mercado de trabalho.

Continuo sem saber o que sustenta minha carne.

Há tanto tempo que morri.

Falta-me cair mas por alguma insanidade que ainda não investiguei direito insisto nos cosméticos, nos homeopáticos, nos químicos, nos aconchegos, nos filmes, nos pequenos movimentos, nas sutilezas, nas crianças, nas faixas de pedestres.


Quanta babaquice.

sábado, 4 de abril de 2015

Poesia pronta e mal acabada

É criança (preta)morrendo
Filha adoecendo
Avião caindo
Mãe enfraquecendo
Polícia repreendendo
Coração doendo
"Em tons de" vida estranha
Que insiste em não mais ser aquela que diz
Ouve e por todo lado apanha
Que tragicômico é ser feliz