segunda-feira, 27 de julho de 2015

das tuas fotografias


Às vezes eu acho que é uma questão de leitura. Tenho quase certeza.
Ou a falta dela.
Isso, a falta dela.
Pessoas que lêem são melhores.
Elas conseguem fantasiar. Dopam os sentidos com mentiras mais elaboradas, encantadoras e manipuladoras.
Veja o quanto são pessoas melhores.
São pessoas que...
Espera,
argumentativas (manipuladoras fica horroroso), convincentes. Isso. Convincentes.
Continuando...
São pessoas que deixam sua marca no mundo. Não mais suave, não mais doce, não menos dolorida, mas mais suave. Doce. Bonita. Complexa. Valiosa.
Meu erro foi não ter lido.
Na verdade foi ter desistido das letras.
Não sei bem porque o fiz mas já adianto que me arrependo.
Fui ao som. À textura. Ao cheiro. À imagem. Ao gosto. Mas nada disso tem sentido se não há uma boa interpretação. E uma boa interpretação necessita de leitura.
Consegue-se feitos maravilhosos com a mediocridade. Feitos que inclusive não são nada medíocres. Mas quem sabe disso ou é mediocre também ou tem uma excelente leitura. De toda forma, quem bota a ver, sabe ler.
Toma um livro, lê cinco, viva quantos puder.
Só não desiste da leitura.

Menina morta


Ela estava morta.
As pessoas não tinha percebido ainda pois ela se mexia. Mas estava morta.
Não sentia mais seu sangue pulsar, não dançava com as batidas de seu coração, não sentia mais a textura dos ventos que passavam.
Estava morta.
Levantava-se e esforçava-se para acompanhar aqueles e aquelas que esperavam por sua vitalidade se manifestando como antes. Eles esperavam, era visível.
Esperavam e se decepcionavam. Se culpavam. A atacavam. Entristeciam. Disfarçavam. Sorriam. Mas não percebiam que ela estava morta.
Há muito havia morrido. E na época ninguém se deu conta. Alguns até suspeitavam, mas o cheiro adocicado e os movimentos bruscos e por vezes involuntários assemelhavam-se a uma dança. Era apenas convulsão.
Hoje ela ainda se encanta com algumas coisas que vê. Mas morre mais com muitas outras. Talvez haja nisso uma centelha de encantamento que um dia a traga a vida. Mas por enquanto ela traga a vida. Faz fumaça e some com ela.
Ela está morta.