segunda-feira, 30 de maio de 2016

domingo, 29 de maio de 2016

De cada dia

Hoje o olhar da fotógrafa
Me acertou em cheio
E doeu tanto
Quanto o corpo do preto
Jogado no chão do eixo
Não sei o que tava fazendo
Só deu tempo de ver sua cor
E seus pés descalços correndo
E a bolsa sendo protegida
Do olhar da mulher colorida
Que sequer a tinha visto no chão

Tornar-se

Da classe, a surdez do conforto
Da cor, a excessão
Dos hábitos, o exotismo
Dos espaços, a permissão
Das relações, insegurança
Do amor, opressão
Do pertencimento, busca incessante e exaustiva
Do desejo
Do desejo...
Desejo?
Desejo!
Liberdade e união!

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Ferida aberta

Silêncio

Com frequência temos, eu e minha mãe (e com certeza a rua toda de moradores), sons estranhos, que não consigo identificar mas costumo descrever como mais "baixos que tiro de canhão e mais altos que tiro de revólver". Aconteceu a primeira vez a uns três dias. Foram três, espaçados entre si. Pássaros voando espantados, minha gata, Bia, de olhos arregalados me perguntava visualmente o que era aquilo. Nos assustamos, não sou de me assustar mas foi inevitável. Dia seguinte novamente. Comentei no Facebook e ninguém mais além da minha irmã, que mora no andar inferior, conseguiu ouvir. Ninguém, por conseguinte, sabia dizer o que era. Hoje pela manhã acordei com eles, um, depois outro seguido de outro bem próximo, e por fim mais um. Acordei e por incrível que pareça senti raiva por pouco tempo (odeio ser acordada). Comecei a imaginar o que poderia ser. Molotov dentro das grandes lixeiras metálicas? Fogos de artifício daqueles que só fazem barulho e fedor? Uma nova arma? Fiquei um tempo imaginando essas possibilidades. Viajei muito com o molotov. Estava divertido. Passada mais ou menos uma hora, outros pensamentos já haviam irrompido em meu agitado campo imaginário, decidi levantar da cama. Algum tempo depois foi a vez da minha mãe. Pouca prosa e o assunto já veio à tona. "Ouviu o barulho de novo?" "Ah, mas não tem como não ouvir né?!" "Quem será que está fazendo isso?" "Ah, mãe, não faço ideia mas imagino"

Veio tão abruptamente que pela primeira vez na vida que me lembre parei imediatamente minha fala, sem o menor sinal de continuidade, exatamente no momento em que estava. Sinceramente não me lembro de ter sido tomada por lembranças de forma tão brusca outrora. Foi como se as memórias me tivessem socado os lábios antes que eu pudesse ver sua bruta mão se aproximando.

Parque Oeste Industrial.

Primeiras "missões" de desocupação.
Sirenes das viaturas ligadas, barulhos ensurdecedores e enlouquecedores durante toda a noite para que não houvesse descanso, para que não houvesse tranquilidade, para que não houvesse paz.
Crianças, homens, mulheres, velhos, animais, velhas, jovens, bebês, recém nascidos, bisavós, trisavôs, netas, genros, noras, amigos, primos, filhos, filhotes... 
Ruídos, muitos ruídos para que não haja descanso.
Para que não haja descanso.
Para que não haja descanso.
Não haja descanso.
Não haja descanso.
Não haja.
Não haja.
Não aja.
Não aja.
Não.

Poucos (sobre)viveram.
Poucos (sobre)vivem.


Eu podia parar por aqui. É mais meu estilo e considero mais poético.
Mas eu preciso dizer o quanto me senti feliz ao imaginar meus vizinhos acordando com aquele som infernal depois daquilo.
Eu preciso dizer que quero mais é que se fodam, que se quiserem descanso, enfiem as malditas panelas, vuvuzelas, apitos e gargantas que ruidosamente berraram pela conservação do patriarcado, pelo 33x1, pela morte aos negros, pela tortura a mulheres e homossexuais e tantas outras desgraças que a pouco estavam apoiando, orelha a dentro.
Eu quero mais é que esse som ecoe, e que se for preciso, com ele eu vá.

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Que irônica a vida. 
Começando a escrever esse texto, ouço berros próximos de casa. Nada que eu conseguisse entender até a clara (mas não branca), audível (e espero que ruidosa), grotesca (e fortemente marcante) voz não sóbria que alertava: EU VOLTEI!



quinta-feira, 26 de maio de 2016

Temporal

É, meu amor
Espero que um dia me perdoe
Por acusar-te de lentidão
Lento foi o tempo
Que demoramos pra perceber
Que temos tempos diferentes
E em cada nosso tempo
Há um temporal de saber

segunda-feira, 23 de maio de 2016

TPM

Quando o sangue está pra chegar
Todas as dores com ele vêm junto
Todas as dores do corpo e do mundo

domingo, 22 de maio de 2016

Contraconto (supostamente) leonino

Cidade pequena, próxima a um confinamento. Muito de pacato, tanto de tormento. Postos de saúde em crescente lotação, estômago, intestino, virose, sofrimento.
Um vendedor, bruto e impositivo, esbraveja sem temor: vocês tão bebendo bosta!

Vocês tão bebendo bosta!
VOCÊS TÃO BEBENDO BOSTA!

Quanta grosseria! Quanta ousadia!
Agora que tomo água do poço artesiano, estou tão melhor, quem diria?!

Eis que de repente chega uma figura aberração. Desçe da espaçonave um ser ser explicação.

Vegetarianoque? Qual é mesmo a explicação?

Seria promessa?
Religião?
Coisa de gente da cidade?
Ah, isso na verdade é frescura! Coisa de quem quer chamar a atenção!

E acabou a porra do poema.
(A verba pra educação tem selo Friboi de garantia)

sábado, 14 de maio de 2016

aborto castração

O que será que se esconde
Por traz do desejo "tão ambíguo"
De ser mãe e não ter que ser mulher?
Parece-me tão óbvia a resposta
Que não faço a menor ideia

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Eita

Sintoma

S i N t o m a

Sin t amo

Ops

Pra não dizer que não falei de amor

É tiro pra todo lado
Desemprego
Dívida
Falta de grana
Falta de saúde
Falta de educação
Falta de comida
Falta de respeito
Falta de dignidade
Falta de teto
É mentira
É Trapaça
É Violência
Morte, suicídio
Homofobia
Transfobia
Lesbofobia
Racismo
Opressão de classes
Opressão estética
O mundo sendo destruído
As pessoas sendo destruídas
Tudo despedaçando
E eu aqui
Chorando
Desesperadamente
Por você