segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Quilombo Manicômio

Não vive corrupção muitos dos que saem imploram pra voltar por não ter pra onde ir artesanato as drogas ajudam a passar o tempo castigo onde está a saúde a escola é estadual e funciona bem fedor tráfico de vidas se eles quisessem sairiam facilmente é tudo negociação elas são as mais terríveis imagine só pra que serve a ala psiquiatrica jaleco poder tem muitos negros? Ele não sabia o qur era orgasmo olhar infantil e desesperado quanta gentileza recebe bem a psicologia tem que estudar os de menor exemplo para os próximos o sistema não foi feito pra funcionar tem dias que dá pra trabalhar em outros não dá e não tem comunicação são três guaritas alguns conseguem passar por essas colunas de cimento extraem papel por entre as lâminas de toddynho pra fazer cigarro são muito artistas contrato de dois anos quando alcançam a liberdade provisória pedem pra dormir aqui não falam sobre a sexualidade existem muias relações entre eles noventa mulheres mil e quinhentos homens por que não se rebelam contra os senhores pareja o cara era culto e muito bonito belíssimo não se pode passar mais de quatro vezes nesse detector é difícil porque muitos não respeitam a instituição o buraco do espelho está fechado a maioria já chega aqui com algum comprometimento psicológico e quando não chegam desenvolvem a maioria desenvolve ganha bem modelo nacional seu cabelo tá bagunçado te mato mais tarde cocaina não pode entrar com celular do jeito que tão cortando os benefícios vai acabar tendo rebelião se deixar todos juntos eles se matam a última foi em noventa e quatro eles não sabem falar sobre si muitos não sabem  nem o que sentem a maioria que vem pra trabalhar nesses projetos são mulheres bom dia

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Dê feza (ou canção do não arrepender)

Pior, sempre pior.
Pior do que parece.
Achei que o problema fosse a culpa.
Mas algo muito pior acontece.
O conforto do ponto final que a culpa instaura
quem diria, paradoxal prece!
Dói menos que o vazio seco
do "fiz o que pude"
mas perdi".
Acontece.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Por que fora Cunha?

Este texto foi escrito pra uma prof minha, que pediu pra que justificássemos por que pedimos para ela cancelar a aula. Eu não faço ideia do por que estou justificando isso pra vocês e nem pra ela, mas tá aí.  <3

Por três motivos deixei de ir à aula quarta-feira passada (04/11): Por ser mulher, por ser estudante e por ser uma futura profissional de Psicologia.
Por ser mulher porque percebo que, ainda que a muito tempo sejamos perseguidas, desrespeitadas, deslegitimadas, negligenciadas e violentadas de todas as formas, resistimos. Sobrevivemos. E dessa sobrevivência, fazemos vida. E para isso, lutamos. Atualmente, um de nossos inumeráveis embates tem sido, ainda, pelo respeito aos nossos corpos e a nosso direito a controlá-los. Em contrapartida, pessoas privilegiadas de diversas formas, como o Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), (Homem, branco, cisgênero, heterosexual, rico, detentor de poderes políticos) fazem propostas, em acordos tenebrosos com pessoas e instituições diversas (políticas, religiosas, econômicas, etc.), com a intenção justamente de controlar e desrespeitar nossos corpos, uma das formas de manter-se em seus privilégios. Com o PL 5069/13, de sua autoria, o  atual presidente da Câmara propõe a criminalização do anúncio de meios abortivos e revoga a lei de atendimento às mulheres e meninas vítimas de violência sexual, a 12.845, logo, será considerada criminosa e condenada à muitos anos de prisão (variáveis entre usuário e profissional), tanto a pessoa que desejar praticar o aborto, independente da circunstância em que  gravidez ocorra (e claro, ignorados seu desejo e suas necessidades), quanto à pessoa que cumprir com seu dever ético profissional de prestar atendimento -de qualidade- àquela vida (e todas as vítimas de abuso sexual, independente de gravidez ou não, deverão ser atendidas de forma desrespeitosa, desumana e burocrática).
Entendo que o aborto seja uma prática complexa e que se trata de decidir por outra (possível) vida e que não é uma escolha simples. Mas da mesma forma que abortar pode trazer conseqüências físicas, psíquicas e mesmo sociais, não abortar pode trazer outras conseqüências tão ou mais graves, e se há uma decisão a ser tomada, ela deve partir daquela pessoa que vai sofrer diretamente tais conseqüências e têm a possibilidade de se expressar sobre elas: a mulher (ou o homem trans, porque é também uma possibilidade que deve ser considerada.). Logo, enquanto mulher, em solidariedade com outras mulheres e homens trans e em respeito aos nossos direitos, tenho o dever de lutar.
Enquanto estudante, entendo que o aprendizado acontece em diversos tempos e espaços. Mesmo o aprendizado pedagógico/escolar/acadêmico, não se efetiva apenas dentro de uma sala de aula. As atividades em campo são fundamentais para que se concretize a práxis educativa, para que a teoria e a prática de fato sejam uma síntese que proporcione uma vivência coerente e justa. Considero os espaços de militância, de participação social, educativos, conscientizadores e empoderadores. São espaços de contato ativo com a realidade em que aplicamos e absorvemos conhecimentos teóricos para o cumprimento de nossos deveres enquanto cidadãos e cidadãs.
Na manifestação pude entrar em contato com pessoas de diversos cursos e mesmo pessoas que não estão inseridas em espaços formais de educação, percebendo, na diversidade dos discursos e práticas, a riqueza proveniente da articulação dos diversos saberes para a composição de lutas que garantam o direito de todos. O embasamento histórico da luta de nós mulheres, as análises socioeconômicas que contextualizam o momento que estamos vivendo, as possibilidades de engajamento por meios artísticos, os modos de enfrentamento cotidiano das trabalhadoras, enfim, uma diversidade de saberes.
Enquanto futura profissional de psicologia, comprometida com a realidade e preocupada com o bem estar integral dos sujeitos e da coletividade, é minha responsabilidade estar inserida em espaços como o que foi articulado, afinal, para além de nossos deveres enquanto cidadãos, temos (profissionais de psicologia), fundamentando nossa prática, os seguintes princípios:

“I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.”

Desta forma, é fundamental posicionarmo-nos contra este projeto[1], que promove a desigualdade e a violência e desrespeita a integralidade de seres humano.




[1] Não só contra este projeto, mas contra qualquer proposta que atente contra a dignidade humana. A emergência deste ato e de outros atos aparentemente repentinos se deve aos prazos curtos entre a possibilidade de impedimento e da votação para a aprovação dos projetos. Infelizmente, temos poucos instrumentos coletivos de luta e há enormes dificuldades em promover articulações, tendo que recorrer a estratégias emergenciais.

Fontes de pesquisa: 

  • http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2015/09/pelos-nossos-direitos-contra-o-estatuto.html
  • http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
 As proposições e a lei:
 
  • PL 6022/13 : http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1112500&filename=PL+6022/2013
  •  Lei 12.845: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12845.htm
  • PL 5069: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12845.htm 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

drama



Discordo profundamente da afirmação de que recordar é viver.
No momento em que estou recordar do que foi bom é morrer de saudade.  Mutilar-me de falta.
Recordar do que foi ruim é arrepender-me de estar viva.
Mas não recordar é submeter-me às mais cruéis torturas. É estar passiva.
A dualidade é limitadora e ignorante.
“Não é um jogo”, diz quem está ganhando.
A fluidez, o amor ao percurso é para os espertos. Manipula, hierarquiza, seleciona, premia.
Na verdade o que discordo é da afirmação de que viver é bom.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A careca da preta


Me deixa no mínimo pensativa ouvir que com o cabelo rapado (agora já só mais curto, porque cresce na velocidade da vida) eu fiquei (muito) mais bonita... Já comentei aqui antes sobre o um incômodo sobre essa frase mas outro ponto acerca deste 'elogio' se trata de seus complementos: “dá pra ver seu rosto perfeitamente agora, e ele é lindo mesmo! Eu bem que queria fazer isso, mas não tenho coragem.” Ou “não é todo mundo que fica bonito de cabelo rapado assim não...”

Mulheres! Mulheres do meu coração, rapem! Libertem-se!

Eu realmente queria que fosse fácil dizer, ouvir e fazer isso.

Vamos relembrar os motivos pelos quais eu rapei meu cabelo?

“...Porque queria começar uma fase nova na minha vida, começar "do zero". E porque posso.

Posso porque tenho direito sobre meu corpo.

Posso porque tenho direito sobre meu cabelo (que é meu corpo).

Mas posso também porque sou bonita.”

De fato, se eu tive cinco minutos de preocupação com o resultado estético do meu corte foi muito. Eu me lembro sim de ter pensado: e se minha careca for feia? Mas olhei pra mim mesma por pouco tempo e nunca mais a pergunta veio à tona.

Pessoalmente é muito bom olhar-se no espelho e ver que o rosto, o formato da cabeça, a proporção em relação ao resto do corpo, a simetria não me causarão nenhum tipo de problema. E mais ainda, me trarão privilégios. Em resumo: eu sou bonita.

E eu sei que eu sou. E eu me acho bonita. Muito, até. Mas pensar sobre isso é um tanto perturbador. Explico.

Certa vez, conversando com uma das pessoas que eu mais amo nessa vida, descobri que ela não é satisfeita com seu corpo. E não é uma questão de: ah, hoje eu acordei mal, tô me sentindo horrorosa. É uma questão de: nossa, hoje eu tô bonita. Percebe a diferença? Apesar de estudar psicologia e entender um pouco sobre formação de auto-estima, é sempre um choque pra mim descobrir o quanto as pessoas não se acham bonitas, não gostam de seus corpos (isso por que vou me deter agora a uma questão... sócio estética, digamos assim.). Meu deus, aquela mulher é maravilhosa! Não vou descrevê-la aqui por que não é meu objetivo e não quero expor pessoas, mas acreditem, que mulher linda é aquela preta. Por que raios eu consigo perceber essa beleza em mim e nela e ela não consegue perceber nela? Por que a maioria das pessoas são assim?!

Sim, existe um padrão de beleza imposto que dita como as pessoas devem ser e raramente (se é que é possível, e eu acho que não) alguém consegue alcançar esse padrão, existe todo um incentivo da mídia pra essa busca, existe racismo, machismo, etc, etc, etc. Um monte de lixo. E o resultado disso?

“Eu bem que queria fazer isso, mas não tenho coragem.”

Sério, é muito triste perceber que grande parte da minha coragem em rapar o cabelo vem das centenas de convites pra desfilar que já recebi, pelas quantidades imensas de propostas de participação em anúncios publicitários, dos vários books planejados pela minha mãe e toda uma leva de pessoas aleatórias que mexem com fotografia e da crença coletiva e enraizada de que existem pessoas que “podem” fazer isso por estarem encaixadas em certos padrões, e eu me encaixo nessa categoria estética.

Não gente, eu não pensei nisso tudo antes de pedir pra cortarem. Isso é processo. Um processo lento, divertido por um lado e doloroso por outro, de descoberta de mim e do outro. E não, eu não fico satisfeita em “ser autorizada” a estar neste lugar. Eu posso estar neste lugar, você pode, sua mãe pode, sua tia pode, sua avó pode, sua namorada pode, sua irmã pode e sim, estou falando especialmente para mulheres por que nunca vi muita dificuldade em homens de cortar o cabelo, mas serve para eles também, principalmente se pensarmos em outros pontos, que não necessariamente sejam cabelo rapado. Serve para todos os gêneros. Por que este privilégio que eu tenho, tal como a maioria dos que as pessoas usufruem, é, na verdade um direito de todes. Direito ao corpo, direito à liberdade estética, direito a ser e se expressar no mundo como acharem que devem, desde que para isso não destrua a ninguém. 

Mas é muito triste e me preocupa saber o quanto as imposições sociais estão enraizadas, marcam e mutilam os corpos. E infelizmente eu não conheço ninguém que escape dessas marcas, direta ou indiretamente. Eu rapei o cabelo, mas ainda me envergonho dos pelos nas minhas pernas e axilas, e olha que AMO brincar com os pelos das minhas pernas. Eu rapei o cabelo mas ainda tive medo de sair na rua e ser ridicularizada nas primeiras vezes depois do novo visual. Eu rapei mas ainda não gosto da minha “cintura dupla” e me incomodo um pouco com a minha barriga em algumas das minhas fotos.

Eu sou bonita, e sou humana e ainda estou inserida enquanto mulher, negra e sapatão nesta sociedade que não me quer em muitos espaços e posições (mas vai ter que me encarar). E quer saber?! Eu não deixei de ser negra, não deixei e não vou deixar de lutar pela liberdade dos corpos.

Eu reconheço muitos dos lugares de privilégio que ocupo, mas longe acolhe-los enquanto formas de dominação, quero sim acolhe-los enquanto poder, mas poder de empoderar, poder de influenciar e transformar a quantes eu conseguir. E reconheço também minhas contradições, barreiras que consigo e ainda não consigo transpor. Mas aos poucos vou ressignificando minhas vivências e encarando os obstáculos.

O que ganhei com a careca? Além de sensações deliciosas (visuais e táteis), reforcei minha vigilância em relação às observações “ruins” que faço acerca das outras pessoas mas principalmente, me atentei para os significados dos elogios para quem os recebe direta e indiretamente. E olha só, não incomodar com um Black Power gigante me deixou incomodada a ponto de reavivar meus dedinhos e minha tagarelice. 


Luta, mulher, do jeito que puder!

Rapa a cabeça, mulher! (Se quiser!)

A preta careca


Me deixa no mínimo pensativa ouvir que com o cabelo rapado (agora já só mais curto, porque cresce na velocidade da vida) eu fiquei (muito) mais bonita...

Começando pelos não motivos pelos quais eu rapei meu cabelo:

Não, eu não estou fazendo tratamento para câncer;

Foi extremamente conveniente nesse calor terrível daqui e eu até brinco com isso as vezes, mas não, não rapei por que estava calor;

Também não rapei pra me assumir sapatão, diferentona, rebelde ou feminista para o mundo;

A última vez que eu tive piolho foi com uns sete anos, meu cabelo era bem maior do que estava e eu não rapei por isso;

E não tirei pra lavar (até por que nunca encontrei dificuldade, além de preguiça e uma certa demora,  pra lavar meus crespos);

Pedi pra que rapassem o meu cabelo porque queria estar de cabelo rapado. Porque gosto, acho bonito. Porque queria começar uma fase nova na minha vida, começar "do zero". E porque posso.

Posso porque tenho direito sobre meu corpo.

Posso porque tenho direito sobre meu cabelo.

Mas posso também porque sou bonita.

Metida, não? Não.

Reconhecer privilégios, características, reconhecer-se a si é necessário, é um ato político.

Ok, voltemos à frase.

Muita gente, assim que meu cabelo deu uma crescidinha (ou seja, depois do susto/rejeição iniciais) veio me dizer o quanto eu fiquei bonita ou mais bonita do que antes com o cabelo assim. Isso me faz pensar em algumas coisas: A primeira se refere ao que significa o cabelo para as pessoas negras. Não vou entrar em uma profunda discussão sobre isso, mas afirmo: assumir o cabelo crespo é sinônimo de resistência. Senti isso na pele desde quase sempre, porque não me lembro de já ter realmente gostado de alisar o cabelo (e pouco andei com ele liso). Minha trajetória capilar foi basicamente: Tranças de todos os tipos, escova, tranças, coque, tranças, Black Power grande, Black Power médio, Black Power pequeno, máquina zero. Hoje estou no "cotoquinho", já que tem mais ou menos um mês que "zerei". Assim:







Então, como podem perceber, quase sempre assumi a estética negra de várias formas, mas afirmo com certeza que com o Black Power, especialmente médio e grande, passei pelos momentos de racismo mais marcantes que me recordo. É claro que essa percepção se associa também à minha percepção enquanto mulher negra, sujeita a todas as barbaridades a que estamos sujeitas; enquanto sujeito político e enquanto estudante de psicologia. Na medida em que se sabe mais sobre as coisas, percebe-se mais a elas também, e é claro que nesse contexto o racismo se faz mais evidente. Mas longe de ser só por isso, são realmente dolorosos os olhares, comentários, as risadas e os dedos apontados para mim e meu cabelo. O terminal de ônibus que é sempre uma experiência antropológica interessantíssima, tem sido quase um locus de pesquisa (quem sabe não seja mesmo...). Já paguei a mais pegando ônibus em outros lugares por estar cansada ou fragilizada demais pra enfrentar essas manifestações. Se cansa ter um ônibus inteiro olhando pra você, imagina um terminal lotado?! Mas resisti. Resisto. E por três anos mantive minha linda juba (eu realmente adoro chamar meu cabelo de juba, ainda que tenha um significado depreciativo para algumas pessoas, me deixa bem feliz pensar em mim mesma como uma leoa de juba, além disso eu adoro brincar com signos  tenho ascendente em leão e pra finalizar acho poderosa a ideia da imponência que a juba traz, quédizê!),então, por três anos mantive minha juba bem visível e exposta a todos os tipos de comentários. Mas pra além dos comentários ruins, eu já chorei demais e choro até hoje ao pensar no impacto social dessa decisão. Os olhares encantados, principalmente das meninas, para meu cabelo, os depoimentos de pessoas que resolveram soltar suas lindas madeixas depois de me verem, as discussões que foram iniciadas a partir de comentários sobre meus cabelos... tanta coisa boa! Bem, acho que já deu pra perceber o poder da cabeleira preta, né?! Pois bem. Se meus cachos altos e volumosos afetam a ponto de acionar reações de encanto e de profundo desprezo, significa que têm um poder transformador. São, reforçando o que eu havia dito, ferramentas de resistência. Resisto por que incomodo, incomodo porque resisto. Deixo de incomodar quando elimino minha ferramenta de resistência. (Será?!) Eis, finalmente, o motivo do meu incômodo. Muitas das pessoas que me elogiaram enquanto eu estava com o Black Power (e que eu sabia que era falsidade, porque sim, a gente sabe) ficaram felicíssimas com o novo visual. Por incrível que pareça (pra mim foi), uma negra careca passa muito mais invisível pela existência do que uma negra Black Power. Os terminais de ônibus deixaram de ser um “problema”, os comentários e risadas diminuíram consideravelmente, os elogios de “muito mais bonita que com aquele cabelo” se tornaram quase que diários... “A preta ocupou seu lugar”. É exatamente o que eu ouço quando surge esse tipo de elogio vindos de certas bocas...

Ainda tenho refletido sobre isso e é claro que sei que nem todes que o dizem estão sendo racistas. Mesmo os que estão/são, podem estar dizendo/pensando/sentindo isto inconscientemente, pela naturalidade com que é tratado o “racismo à brasileira”.