quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Bora marcar!

Eu tenho um piercing.
                 Ele fica na minha orelha direita, láá em cima, num lugar meio "errado", porque o cara da farmácia não acertou muito bem. Tudo bem.
Já tem um tempão que ele tá lá.
                              Perdeu uma das bolinhas que o segura a minha orelha, mas já está assim a mais de um ano, sem cair. Ele é meio em espiral, então firma.

                                      Ele tá esquecido lá.

Eu não penso nele o tempo todo. Na verdade só lembro que ele existe quando me olho no espelho ou (principalmente nessas vezes), quando meu cabelo prende nele e minha orelha quase vai embora.
    Mas ele está lá.
                                                                                    E eu não gosto nem de pensar na ideia de ter que tirá-lo (apesar de que tô procurando emprego e o mercado-monstro adoora uma perda ou comercialização de identidades... nem sei...).

Mas ele está lá.
E ele serve pra me ligar a meu passado, uma época legal, de adolescente começando a construir identidade. Ele ainda é transgressor, por incrível que pareça, porque ainda tem gente que sustenta isso. Ele é parte de mim e me faz me sentir bem. Não dá pra explicar direito.

Gosto dele lá.

Sabe quando é importante mas é esquecido?
                                                                          Tipo assim...

Será que com gente a gente faz isso?

sábado, 18 de janeiro de 2014

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Cotidiano 3: Ângela

Ângela não gostava de levar as chaves de casa ao sair. Ângela não trancava a porta. Ângela respeitava o direito dos bandidos de ir e vir. Ângela era meio torta. Um dia a mãe de Ângela saiu, trancou a porta e levou as chaves. Ângela chegou primeiro em casa e ficou de fora. Ângela não se estressou, não grasnou tal as aves. E teve uma idéia muito da hora. Ângela queria entrar logo em casa pra ver pornô. E nada de sua mãe chegar pra facilitar a siririca. Ângela deitou-se ali mesmo em seu prédio, no corredor. E de herança jamais ficou rica!

Amarelo

Meia dose de absinto, uma dose de rum cubano, um copinho americano de água, um black de menta e se rolar, um corpo encaixado no meu. Dias de glória, dias de glória. Dias celestiais. Como os dias são divinos longe de você. Prom popopom, prom popopom, prom popopom...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Cotidiano 2: Marcella e Frederico, Roberta e Álvaro.

Frederico é um espreitador. Gosta de observar coisas e pessoas de sua janela.
Roberta é uma espreitadora. Gosta de observar coisas e pessoas de sua janela.
Frederico mora no quinto andar de um prédio.
Roberta mora no sétimo andar de um prédio.

Marcella sempre anda nua pela casa. Não gosta de roupas, só as usa por questões judiciais. E as vezes porque acha bonito.
Álvaro anda nu pela casa. Não gosta de roupas, só as usa por questões judiciais. E as vezes porque acha bonito.
Marcella mora no sétimo andar de um prédio.
Álvaro mora no sétimo andar do mesmo prédio de Marcella.

Álvaro e Marcella já se encontraram várias vezes no elevador, já trocaram “oi”, sorriso e já se ignoraram. Álvaro já pediu farinha de trigo à Marcella uma vez. Mas nunca andaram nus juntos ou souberam desta preferência em comum.
Roberta e Frederico sabiam.
Roberta se masturbava quase todos os dias vendo Álvaro dançar e Marcella assistir os programas de TV que alteravam seu humor.
Frederico se masturbava vendo Marcella cochilar no sofá depois de alguns capítulos de um livro qualquer e as vezes vendo Álvaro treinando discursos de conquista no espelho da sala.
Um dia Frederico filmou Marcella e postou em várias redes sociais. Marcella foi prejudicada, perdeu seu emprego, mudou-se do prédio e saiu da história.
Roberta formou-se em fisioterapia, voltou para sua cidade natal e saiu da história.
Álvaro colocou insufilm em suas janelas e instalou ar condicionado.

Frederico, que já não conseguia namorar, agora não tinha mais a quem espreitar, continuou sem relacionamentos e com seu computador lotado de vírus. Morreu de anemia severa e pneumonia 3 anos depois. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

sdds

Li teu livro preferido (um deles); pintei as unhas de vermelho, um vermelho -não muito escancarado, claro-; comi queijo, azeitona, batatas e queijo com azeitona; acariciei meu modified bear imaginando como poderia estreá-lo (mas ainda não me surgiram ideias boas o suficiente para isso); arrumei a mala pensando nas caras que você faria ao me ver com cada uma daquelas roupas; assisti teu vídeo; pesquisei na internet maneiras diferentes de tocar fake plastic trees e algum jeito de aprender rápido a tocar paranoid android; comi balinha de morango até não aguentar mais aquele doce excessivo amargando em minha boca; minha irmã teve a brilhante ideia, -que fui obrigada a roubar- de aprender a tocar Arctic Monkeys, ainda estou pensando se levo Freire na mala comigo... O dia ainda não terminou mas estive com você durante todo o tempo que ele escorreu... E não sei se já senti antes em minha vida tamanha saudade tua...

Cotidiano 1 - Martin e Adele

-Martin?
-Adele, oh, Adele!
-Quanta exaltação, o que houve?
-Tua voz, Adele. Aquece meu coração e destrói energicamente a dor da saudade que sinto de ti.
-Como ousas falar-me sobre saudade, Martin?
-Porque o dizes?
-Passei todo o dia a pensar em você, a imaginar como estaria e se havia deixado de me amar... Nem sequer ouvi o som de sua respiração, para que assim eu pudesse saber se estava vivo. Como senti saudade, ah, como senti!
-Estive em casa durante todo o dia Adele. Enviei-lhe mensagem de bom dia e...
- E nada mais! Sumiu sem deixar vestígios! Como ousas deixar-me assim, na solidão?
-Adele, todos os dias questiono sobre seu estado, sobre suas atividades, digo-lhe palavras doces, algumas vezes nem tanto, confesso. Mas a procuro todos os dias, querida. O faço com indizível prazer! Não me acuses.
-O fazes sempre, é verdade, mas não o fez hoje. Até respondi tua mensagem de bom dia!
- E depois, amada minha?
- Como assim, depois?
- Que continuidade deu ao diálogo? Interessou-se em saber como eu estava ou sequer o que eu estava fazendo?
-Não, mas imaginei que estivesse com ocupado ou com raiva de mim...
-Adele, o sol já está se retirando. Estaria eu ocupado durante todo este tempo?
-Pois poderia estar com raiva ou qualquer outro sentimento ruim em relação a mim!
-Amada, enviara-me outra mensagem à tarde contando sobre sua saudade...
-Sim! Naquele momento meu peito gritava tão desesperadamente a falta tua que necessitei, com minha escrita fazer-te saber.
-E então?
-Foste frio comigo, Martin! Disseste que também sentia saudade e nada mais...
-E você, meu raio de sol, o que fez em seguida?
-Caí em prantos! Senti que nada mais em mim despertava teu interesse.
-Oh, como é triste saber que derramastes lágrimas de tristeza. Venha aqui.
...
- Que abraço acolhedor... Quisera eu tê-lo desfrutado mais cedo ou por mais vezes no dia de hoje!
-Pois poderia querida. Deixe-me explicar-lhe: Acordei com uma vontade insuportável de ser cuidado, no dia de hoje. A saudade de ti corroía-me os ossos, meus ouvidos e olhos sangravam a falta de suas palavras. Ah, como queria ser hoje o centro de sua atenção. Queria apenas hoje que me procurasse que me dirigisse à palavra, que me aliviasse a dor. Mas brava e dolorosamente resisti a meus impulsos. Queria saber se meu desejo seria suprido por teu amor voluntariamente ou se teria de arrastar-me por isso. Restou-me a segunda opção. Sabe, vida minha, não reclamarei não a culparei e menos ainda cobrarei de ti alguma postura diferente da que assumes, só queria que soubesse o motivo de “meu” sumiço. A única coisa que lhe peço é que observe como expressa seu interesse por mim...
-Compreendo... Mas dizendo isto ignoras todo o amor que sinto por ti, toda a dedicação que devo a ti. Ignoras que meu pensamento quase não toma outro rumo que não seja você e que te incluo em tudo o que faço. Parece que não vês que outro dia passei por cima de todo meu orgulho e vergonha e desnudei-me para você de diversas maneiras. Ou que comecei a escutar e amar canções que me lembram de você. Ignoras que se sofro é por ferir-me com ausência tua ou com tuas palavras rudes, se sorrio é por que penso em algo que lhe agrade ou simplesmente porque tua imagem se projetou em minha mente confusa. Nem consigo mais dizer quantas coisas já fiz, já senti, faço e sinto por você... Querido, meu amor não lhe é suficiente?
-Amada, talvez não tenha de fato compreendido meu ponto. Se não fosse por tudo o que fazes e sentes por mim eu não teria tão grande necessidade de ti. És minha vida. Tudo é vazio sem ti. Mas sabes que sou daqueles que não aguenta não expressar claramente o que sinto por ti. Se me dói, choro, se me irrito, grito, se me transborda ternura, afogo-lhe com ela. Bem sei que todas as palavras do mundo são insuficientes para expressar o que sinto, tudo que eu fizer será pouco para que compreendas ou sintas a grandeza de meu amor, mas são poucos os recursos que tenho que me fazem ser claro contigo. Me esforço, mas sou, talvez, mais limitado que você. E infelizmente espero isso das outras pessoas também. Não é algo que peço para acontecer ou que forço. Eu simplesmente espero. É tão ruim, é tão triste... Eu sei que ninguém é obrigado a agir como eu, mas às vezes eu sinto falta... Perdoe-me...
-Martin, meu amor, me perdoe eu...
-Não diga nada, querida. Não peça perdão. Gostaria simplesmente que me ouvisse e pensasse a respeito. Perdoe-me por agir assim contigo, por assustar-lhe ou fazer-lhe pensar coisas irreais. Sabe, não é sempre que isso acontece, para sorte tua, mas talvez sirva de aprendizado, caso encontres em sua jornada alguém que se assemelhe a mim.
Venha aqui, deite-se em meu peito e vamos admirar as estrelas como gostas tanto de fazer...

Eu te amo.