quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Nota sobre a Fraternidade

Entre parnasianismos, trajes pomposos e traços revolucionários (ou não)
Acumulo privilégios, reúno ceguidores e vomito opressão.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Beck

Bianca conheceu Verônica em um festival em uma cidade que não fazia parte da rotina de nenhuma das duas. Compartilharam ideias interessantes, tinham vários pontos em comum e pouco interesse sexual uma na outra. Aparentemente aquilo poderia ser o broto de uma amizade. Mas isso não importa tanto agora, ainda que perceberão que mais pra frente isso será bem decisivo.

Verônica tem um namorado. É loiro mas usa dreads. É rico, mas tenta se preocupar. Verônica tem um Lattes recheado e está fazendo mestrado.
Bianca é universitária, mas seu Lattes ainda não é lá essas coisas. Está solteira.
Ambas andam de metrô pela cidade, mas se a coisa apertar, Verônica pode facilmente chamar um táxi e Bianca, algum parente.

Ambas queriam ir aos shows que aconteceriam na última noite do festival, estavam bastante empolgadas com a ideia e haveriam muitos shows bons. 
Na tão esperada noite, Bianca foi mais cedo. Seus planos mirabolantes(?) eram: assistir aos shows até o raiar do dia (afinal, o show que mais desejava ver era o último), dormir onde desse, ou simplesmente não dormir, ir a um almoço de despedida no dia seguinte e voltar para casa.

Chegou ao local com malas nas mãos, sozinha vestida em trajes de frio, com uma elegância alheia a seu cotidiano. Estava bastante frio, vestia botas e sobretudo, cheirava azul.
Depositou suas malas num local que pudesse ver e começou a dançar. Precisava se aquecer, mas a animação dxs presentes não deixaria que as coisas acontecessem de outra maneira. Dançou, dançou, dançou, dançou...

-Oi.
-Oi!
-Você fuma?
-Não tenho aqui...
-Você fuma? 
-Ah sim! Às vezes, mas não tenho...
-Fumaria comigo?
-... Hm... sim!

Conversa vai, conversa vem, entre pequenas informações, elogios, sorrisos e fumaça, crescia tímida uma vontade de aproximação labial... 

 Va
ga
ro
sa
men
te...

(e bem tímidamente)...

Um beijo, enfim!
E outro, e abraço, e elogio, e beijo, e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

-Espera só um pouquinho, minha amiga tá vindo e tá demorando pra chegar, vou mandar mensagem!

--meninaaa, vc disse que queria um beck! Tem um gato de dread me oferecendo um, corre! kd vc?--

e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

--tô chegando, onde vc tá?--

e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

-- em frente ao palco!--

e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...

A todo momento ele olhava no relógio ou perguntava as horas.
- É que... vou confessar... eu volto de baú... e para de passar meia noite...
- Mora longe?
- Não é muito perto...
- Tudo bem, ainda temos tempo, eu te aviso!
- Tá bom! Sabe... eu nunca fiquei com ninguém assim, igual você...
-Assim como?
- Ah, assim, é difícil sabe... um cara como eu... e... ah, deixa pra lá...
- O que vc faz?
- Hm, eu trabalho. Trampo em dois lugares... E vc?
- Estudo. Tô na faculdade.
- Hey, parabéns! Faz o que?
- Psicologia.
- Nossa, parabéns! Massa!

.
.
.

Alguém puxa Bianca pelo braço. Era Verônica.
Cumprimentaram-se, apresentaram-se, e após algum tempo de interação, foram deixadas a sós por alguns minutos.
 
Verônica em sussurro (após olhar de reprovação): como isso aconteceu? Como se conheceram?

Depois de algumas breves explicações, voltaram a ser um trio, guardaram as malas em um outro lugar aparentemente um pouco mais seguro e fumaram. Puxa uma, puxa duas, puxa três vezes e Verônica diz que não quer mais.
Pouco tempo depois, chama Bianca para ir ao banheiro com ela. 

- Amiga, tem alguma coisa errada com esse beck.
- Porque?
- Vc n tá sentindo?
- Não,o que?
- Tem alguma coisa errada, estou estranha...
- Mas o que tá rolando?
- Não sei, energia ruim, não gostei, meu corpo tá estranho, bateu errado!
- Deve ser o frio, fica calma!
- Fica calma? Vc conhece esse cara? Ele pode ter colocado alguma coisa nesse beck! Vc acha que aquela hora ele foi mesmo ao banheiro?
- ...
- Vamos embora, não fica com ele mais não!
- Tá... mas sei lá, eu tô de boa, às vezes é impressão sua.
- Não é, eu tô sentindo, tô passando mal, tem alguma coisa errada!
(...)
-Ligue pra sua tia, vá para a casa dela. Não fique mais com esse cara!
- Mas e as malas? Vamos ter que voltar lá!
- Faz assim, a gente busca e vc vai. Ligue pra ela primeiro!
- Mas a gente vai como? Metrô já parou, não tenho grana pra táxi e não sei pegar ônibus! 
- Eu pago o táxi pra vc, toma, 50 dá, né?!
- Ei , eu não poss
- Pega, ligue logo pra sua avó!
- Tá...

Tudo certo. Voltaram, tentaram pegar as malas disfarçadamente mas o rapaz viu e ainda foi ajudar. Bianca e ele já haviam trocado telefone. 

- Tenho que ir, depois a gente se fala.
- Tudo bem, posso te acompanhar até mais na frente?
- Melhor não...
- Tá certo, vou ficar com minhas amigas que estão ali.
- Tá bem...



Bianca chegou na casa de sua tia, ajeitou as coisas, assistiu um pouco de TV e teve um sono tranquilo. Não viu o último show, mas recebeu uma carinhosa mensagem: boa noite, moça linda, dorme bem! E não foi Verônica quem enviou.