Bianca conheceu Verônica em um festival em uma cidade que não fazia parte da rotina de nenhuma das duas. Compartilharam ideias interessantes, tinham vários pontos em comum e pouco interesse sexual uma na outra. Aparentemente aquilo poderia ser o broto de uma amizade. Mas isso não importa tanto agora, ainda que perceberão que mais pra frente isso será bem decisivo.
Verônica tem um namorado. É loiro mas usa dreads. É rico, mas tenta se preocupar. Verônica tem um Lattes recheado e está fazendo mestrado.
Bianca é universitária, mas seu Lattes ainda não é lá essas coisas. Está solteira.
Ambas andam de metrô pela cidade, mas se a coisa apertar, Verônica pode facilmente chamar um táxi e Bianca, algum parente.
Ambas queriam ir aos shows que aconteceriam na última noite do festival, estavam bastante empolgadas com a ideia e haveriam muitos shows bons.
Na tão esperada noite, Bianca foi mais cedo. Seus planos mirabolantes(?) eram: assistir aos shows até o raiar do dia (afinal, o show que mais desejava ver era o último), dormir onde desse, ou simplesmente não dormir, ir a um almoço de despedida no dia seguinte e voltar para casa.
Chegou ao local com malas nas mãos, sozinha vestida em trajes de frio, com uma elegância alheia a seu cotidiano. Estava bastante frio, vestia botas e sobretudo, cheirava azul.
Depositou suas malas num local que pudesse ver e começou a dançar. Precisava se aquecer, mas a animação dxs presentes não deixaria que as coisas acontecessem de outra maneira. Dançou, dançou, dançou, dançou...
-Oi.
-Oi!
-Você fuma?
-Não tenho aqui...
-Você fuma?
-Ah sim! Às vezes, mas não tenho...
-Fumaria comigo?
-... Hm... sim!
Conversa vai, conversa vem, entre pequenas informações, elogios, sorrisos e fumaça, crescia tímida uma vontade de aproximação labial...
Va
ga
ro
sa
men
te...
(e bem tímidamente)...
Um beijo, enfim!
E outro, e abraço, e elogio, e beijo, e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...
-Espera só um pouquinho, minha amiga tá vindo e tá demorando pra chegar, vou mandar mensagem!
--meninaaa, vc disse que queria um beck! Tem um gato de dread me oferecendo um, corre! kd vc?--
e sorriso, e fumaça, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...
--tô chegando, onde vc tá?--
e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...
-- em frente ao palco!--
e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez, e sorriso, e beijo, e sorriso, e papo, e uma leve embriaguez...
A todo momento ele olhava no relógio ou perguntava as horas.
- É que... vou confessar... eu volto de baú... e para de passar meia noite...
- Mora longe?
- Não é muito perto...
- Tudo bem, ainda temos tempo, eu te aviso!
- Tá bom! Sabe... eu nunca fiquei com ninguém assim, igual você...
-Assim como?
- Ah, assim, é difícil sabe... um cara como eu... e... ah, deixa pra lá...
- O que vc faz?
- Hm, eu trabalho. Trampo em dois lugares... E vc?
- Estudo. Tô na faculdade.
- Hey, parabéns! Faz o que?
- Psicologia.
- Nossa, parabéns! Massa!
.
.
.
Alguém puxa Bianca pelo braço. Era Verônica.
Cumprimentaram-se, apresentaram-se, e após algum tempo de interação, foram deixadas a sós por alguns minutos.
Verônica em sussurro (após olhar de reprovação): como isso aconteceu? Como se conheceram?
Depois de algumas breves explicações, voltaram a ser um trio, guardaram as malas em um outro lugar aparentemente um pouco mais seguro e fumaram. Puxa uma, puxa duas, puxa três vezes e Verônica diz que não quer mais.
Pouco tempo depois, chama Bianca para ir ao banheiro com ela.
- Amiga, tem alguma coisa errada com esse beck.
- Porque?
- Vc n tá sentindo?
- Não,o que?
- Tem alguma coisa errada, estou estranha...
- Mas o que tá rolando?
- Não sei, energia ruim, não gostei, meu corpo tá estranho, bateu errado!
- Deve ser o frio, fica calma!
- Fica calma? Vc conhece esse cara? Ele pode ter colocado alguma coisa nesse beck! Vc acha que aquela hora ele foi mesmo ao banheiro?
- ...
- Vamos embora, não fica com ele mais não!
- Tá... mas sei lá, eu tô de boa, às vezes é impressão sua.
- Não é, eu tô sentindo, tô passando mal, tem alguma coisa errada!
(...)
-Ligue pra sua tia, vá para a casa dela. Não fique mais com esse cara!
- Mas e as malas? Vamos ter que voltar lá!
- Faz assim, a gente busca e vc vai. Ligue pra ela primeiro!
- Mas a gente vai como? Metrô já parou, não tenho grana pra táxi e não sei pegar ônibus!
- Eu pago o táxi pra vc, toma, 50 dá, né?!
- Ei , eu não poss
- Pega, ligue logo pra sua avó!
- Tá...
Tudo certo. Voltaram, tentaram pegar as malas disfarçadamente mas o rapaz viu e ainda foi ajudar. Bianca e ele já haviam trocado telefone.
- Tenho que ir, depois a gente se fala.
- Tudo bem, posso te acompanhar até mais na frente?
- Melhor não...
- Tá certo, vou ficar com minhas amigas que estão ali.
- Tá bem...
Bianca chegou na casa de sua tia, ajeitou as coisas, assistiu um pouco de TV e teve um sono tranquilo. Não viu o último show, mas recebeu uma carinhosa mensagem: boa noite, moça linda, dorme bem! E não foi Verônica quem enviou.