segunda-feira, 27 de julho de 2015

Menina morta


Ela estava morta.
As pessoas não tinha percebido ainda pois ela se mexia. Mas estava morta.
Não sentia mais seu sangue pulsar, não dançava com as batidas de seu coração, não sentia mais a textura dos ventos que passavam.
Estava morta.
Levantava-se e esforçava-se para acompanhar aqueles e aquelas que esperavam por sua vitalidade se manifestando como antes. Eles esperavam, era visível.
Esperavam e se decepcionavam. Se culpavam. A atacavam. Entristeciam. Disfarçavam. Sorriam. Mas não percebiam que ela estava morta.
Há muito havia morrido. E na época ninguém se deu conta. Alguns até suspeitavam, mas o cheiro adocicado e os movimentos bruscos e por vezes involuntários assemelhavam-se a uma dança. Era apenas convulsão.
Hoje ela ainda se encanta com algumas coisas que vê. Mas morre mais com muitas outras. Talvez haja nisso uma centelha de encantamento que um dia a traga a vida. Mas por enquanto ela traga a vida. Faz fumaça e some com ela.
Ela está morta.

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